Fraude com terapias “a mando de padre”
JULGAMENTO Funcionário Pedro Moreira e cónego José Graça trocam acusações sobre esquema que lesou o Estado em 200 mil euros BURLA Criaram utentes-fantasma em projeto de reinserção
Dois arguidos, duas versões completamente opostas dos mesmos factos, num processo em que um padre e um antigo terapeuta do Centro Social Interparoquial de Abrantes (CSIA) estão acusados, e já começaram ontem a ser julgados, por burla qualificada ficação e de falsi- documentos. Acusaram-se mutuamente pelos crimes.
Em causa, o esquema fraudulento em que o Estado foi lesado em mais de 200 mil euros e que envolvia a criação de utentes-fantasma para receber mais dinheiro de um projeto de combate à toxicodependência e à reinserção social apoiado pelo Estado. O cónego José da Graça foi o primeiro a falar, no Tribunal de Santarém, tendo jurado que “nada sabia” acerca da falsificação das listagens nominais que eram entregues aos ministérios da Segurança Social e da Saúde, no âmbito do ‘Projeto Homem’, apesar de ser ele o presidente do CSIA. Diz que as fraudes foram cometidas por Pedro Moreira, que “tinha total autonomia para gerir o projeto” e em quem depositava “total confiança”. Chamado a depor após o cónego, Pedro Moreira, o outro arguido, relatou o oposto. Assumindo a autoria de todos os crimes que lhe são imputados pelo Ministério Público na acu- sação, o terapeuta disse ter agido “sempre a mando” do cónego, que incitou o esquema fraudulento desde o início do projeto, ainda em 2001. Era José da Graça quem “exigia o preenchimento total das listas”, fosse com utentes que já tinham abandonado o tratamento, outros que nunca o frequentaram, e até com nomes de presidiários, entre outros ‘fantasmas’.
“O que interessava era receber o dinheiro”, declarou aos juízes Pedro Moreira, que saiu da instituição em Julho de 2012 e foi o autor da denúncia que deu origem às inspeções da tutela, e que obrigaram entretanto o CSIA a devolver parte das verbas que faturara ao Estado.
“O QUE INTERESSAVA
ERA RECEBER O DINHEIRO”, CONFESSOU ARGUIDO