MORGADO PREPARA ACUSACAO
r PROCURADORA quer acabar inquérito e levar arguidos a julgamento por teia de corrupção e tráfico de influências r LÍDER BENFIQUISTA responde por cunha A RANGEL E VIEIRA
PRESIDENTE DO BENFICA
RESPONDE POR CUNHA METIDA EM PROCESSO
JOSÉ VEIGA E SOBRINHO
SÃO SUSPEITOS DE TEREM CORROMPIDO DECISÕES
FÁTIMA GALANTE REDIGIA
OS ACÓRDÃOS. ADVOGADO AMIGO ESCONDIA FORTUNA
Dois pesos pesados do Ministério Público carregam desde o início no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), à vez, a investigação à teia de corrupção em torno do juiz Rui Rangel – suspeito de dezenas de favores judiciais a empresários, em troca de subornos milionários que lhe sustentaram a vida de luxo. Primeiro foi o procurador Albano Morais Pinto, até que saiu do STJ para a direção do DCIAP, e agora quem assume o processo em mãos é Maria José Morgado, ex-procuradora distrital de Lisboa que chega ao STJ. O objetivo, sabe o CM, é concluir o inquérito com urgência e acusar.
Protegidos pelo estatuto dos juízes, Rui Rangel e a ex-mulher, também desembargadora, Fátima Galante, escaparam há um ano à prisão preventiva – que lhes está vedada por lei na fase de inquérito –, mas a acusação é certa nos próximos meses face à prova recolhida pela Unidade de Combate à Corrupção da PJ. Para eles e, entre outros, para Luís Filipe Vieira, o presidente do Benfica que é arguido por ter traficado influências com o juiz desembargador para resolver umprocesso fiscal pen- dente no Tribunal de Sintra. À troca, Rangel tinha prometidos cargos no universo Benfica.
Noutros casos, de corrupção, por se tratar de processos em que o juiz tinha o poder de decisão direta, na Relação de Lisboa, há suspeitas de que quem formulava os acórdãos em determinado sentido, para o ex-marido assinar, era Galante, que trabalhava no mesmo tribunal.
Foi esse o procedimento apanhado na investigação ao acórdão de Rangel, em 2016, quando devolveu 30 imóveis, que esta- vam arrestados, no valor de 80 milhões de euros, ao empresário Álvaro Sobrinho; e também quando o juiz decidiu num recurso de José Sócrates no caso Marquês acabar com o segredo interno do processo. Foi Galante quem lhe enviou, por email, a fórmula jurídica para tal, como comprovam as perícias da PJ.
De resto, o grande corruptor de Rangel, segundo a investigação, é José Veiga, que ainda não foi mas será constituído arguido (ver caixa) até ao final do inquérito. Será acusado, assim como
aqueles que foram utilitários aos esquemas de corrupção, escondendo a fortuna ilícita do juiz para que este não fosse apanhado – mais de ummilhão de euros em dez anos de subornos, segundo a estimativa do processo. São os casos do advogado Santos Martins e de outra ex-mulher de Rangel (ver infografia), que responderão por branqueamento de capitais. Os luxos, sobretudo com casas e carros, foram a perdição do juiz.