Correio da Manha

Duas agendas

- António Rego Padre

Agenda cheia”,uma das queixas mais frequentes em pessoas com muita atividade. É o (falso?) problema do tempo de que tanto nos queixamos. Ele, coitado, nunca se queixa. Dizemos que ele é curto e limitado. Não conseguimo­s harmonizar o possível com o impossível. Estamos perante encargos (?) que assumimos no âmbito pessoal, familiar, social ou mesmo pastoral. Por motivos frequentem­ente escondidos. Por vezes apetece fugir para o deserto mas mesmo aí podemos preencher a agenda de vazios, sem espaço para a emoção, e a alegria - o melhor que o nosso coração pode desejar. Até o amor perde o norte. Vamos percebendo que não se trata apenas de saber organizar as nossas horas mas de arrumar a nossa mente, o coração, de forma a não nos perdermos no vácuo das inutilidad­es. Podemos tomar como exemplo o gesto de olharmos para o relógio perto das 13 ou das 20 horas para sabermos, pelo telejornal, como vai o cosmos. Ilusão. Há vá- rios canais de comunicaçã­o mas parece que só nos sentimos testemunha­s se os nossos olhos tocarem a realidade dos factos.

Temos o mundo na mão e até damos um contributo ao menear a cabeça face às graças e desgraças que desfilam no nosso ecrã afetivo. A notícia dura pouco e cada plano sobrevive míseros segundos. Mas isso dános alento e atreviment­o para contarmos ao nosso vizinho, com ar sábio, o que acabámos de descobrir na nossa galáxia. É bom que nos cheguem notícias e perante nós desfilem as imagens. Mas temos de fugir de dois lapsos: a convicção de que estamos informados e que o mundo nos revelou os seus melhores segredos. E vamos inchando. Passamos à expectativ­a do acontecime­nto seguinte. Se for uma tragédia terá em nós o crítico severo. Se for uma banalidade facilmente será sufocada por um acontecime­nto mercantil. A tudo isto resta juntar a alegria. Que não seja expulsa do terreno que nos dá frescura e horizonte em cada passo da nossa vida. É insubstitu­ível.

NÃO SE TRATA APENAS

DE SABER ORGANIZAR

AS NOSSAS HORAS MAS DE ARRUMAR A

NOSSA MENTE

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