Correio da Manha

Entre extremos

- Luís Campos Ferreira TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA Gestor

EXTREMISMO­S

NUNCA SÃO

BONS, VENHAM LÁ DE ONDE

VIEREM

As eleições do último domingo em Espanha vieram mostrar-nos um país politicame­nte mais dividido e cada vez menos moderado. À direita, o Partido Popular viu drasticame­nte reduzida a sua influência, tendo sido incapaz de conter a barreira do extremismo que levou o novo partido ultra-nacionalis­ta Vox a conquistar mais de 10% dos votos e 24 lugares no parlamento. O partido socialista espanhol foi o vencedor indiscutív­el, mas sem a maioria absoluta que lhe permitiria governar sem a necessidad­e de se entender com terceiros. Pedro Sanchéz não tem, por isso, a tarefa facilitada. O cenário de um governo minoritári­o que procurará os entendimen­tos necessário­s no parlamento, de certa forma à imagem da geringonça de Costa que Sanchéz tanto elogia, parece estar a ganhar terreno. Mas mesmo que para certas matérias o governo do PSOE acabe por ir buscar o apoio ao centro (nomeadamen­te aos Ciudadanos, de Rivera), em grande parte das políticas é de

esperar que Sanchéz se veja tentado – ou obrigado – a alinhar o seu discurso com o da extrema-esquerda do Podemos. Assim, à semelhança do que já vinha acontecend­o um pouco por toda a Europa, também os extremos crescem e se tentam consolidar no nosso país vizinho, a que acresce o tempero das questões independen­tistas. E isso devia preocupar-nos. Porque o diálogo entre os extremos, mesmo quando estes se tocam, é extremamen­te difícil, senão impossível. Os danos para um país vêm justamente quando os grandes consensos são impossívei­s de atingir. Uma coisa é certa, porém: para mim é tão preocupant­e ver agora a extrema-direita do Vox sentar-se no parlamento espanhol como o foi, em 2015, ver a extrema-esquerda do Podemos a fazer o mesmo. Extremismo­s nunca são bons, venham lá de onde vierem – ainda que os de esquerda sejam, histórica e socialment­e, mais tolerados e às vezes até acarinhado­s. Vá lá saber-se porquê.

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