A luta descontinua
Eram outros os tempos quando, em Dezembro de 2014, o governo de Pedro Passos Coelho decretou a requisição civil (a única nessa legislatura) para fazer face à greve dos trabalhadores da TAP. Nessa altura, o PS não se fez rogado a criticar a incapacidade do governo para evitar aquela situação, o PCP veio a terreiro para acusar a medida “antidemocrática e demagógica” e o Bloco de Esquerda chamou o então ministro da Economia ao parlamento com carácter de urgência. Nesses tempos, ainda valia o velho lema de que “a luta continua”. Pois bem, o governo de António Costa já vai na terceira requisição civil e o mínimo que se pode dizer é que agora “a luta descontinua”. Por estes dias, para além das ondas de desinformação, contra-informação, ameaças, queixas, denúncias e chantagens que de um lado e de outro se agitam, ouve-se falar de multas, de despedimentos e até de prisão para os trabalhadores grevistas e incumpridores dos serviços mínimos. É todo um outro pa
tamar de confrontação e de descontrolo, a que nem nos piores dias de tumulto laboral e social que marcaram o tempo da troika se assistiu. Mas os tempos são agora, de facto, outros. E por isso apenas uma suave brisa de indignação sobressalta hoje o pessoal de esquerda perante a ameaça das multas, despedimentos e prisão de trabalhadores que os ministros socialistas, em magote ou à vez, não se têm cansado de brandir. Alguma coisa mudou. Os trabalhadores, garantidamente, não mudaram, pois o que estes reivindicam agora é o mesmo que todos os trabalhadores reivindicam desde que o mundo é mundo e as greves são greves. Portanto, e por exclusão de partes, só me ocorrem duas possibilidades. Por um lado, mudou o facto destes sindicatos dos motoristas não estarem sob a batuta da CGTP. E, por outro, mudou o facto de o PCP e o BE fazerem agora parte integrante da solução de governo do Dr. Costa. A luta, essa, segue dentro de momentos.
APENAS UMA SUAVE BRISA DE INDIGNAÇÃO SOBRESSALTA HOJE O PESSOAL DE ESQUERDA