Correio da Manha

DEZ PESSOAS USARAM DROGA DA MORTE

NÚMEROS Dados do Instituto de Medicina Legal revelam que há casos de portuguese­s que recorrem ao mercado negro para acabar com a vida VALORES Preço da substância letal pode variar entre os 280 e os 670 euros

- JANETE FRAZÃO* *COM A.I.F. E L. R. NOTÍCIA EXCLUSIVA DA EDIÇÃO EM PAPEL

Vou deixar de conseguir comer, de conseguir andar. Não é isso que quero para mim.” As palavras são de Joana Silva, 37 anos, doente de Huntington, cuja esperança média de vida é de 17 anos. Viu o pai morrer da mesma doença e tem uma certeza. “Quero uma morte com dignidade”, diz a administra­tiva de Vila das Aves. Tal como Joana, João Cané sabe que tem a vida a prazo. Aos 52 anos, o enfermeiro e docente universitá­rio na Universida­de do Minho tem um cancro grave. “Se decidir que já não quero mais viver assim, quero poder escolher a eutanásia ou o suicídio assistido”, diz ao CM.

Sem certezas quanto ao futuro, o mercado negro não é descartado por Joana e por João, tal como aconteceu com outros dez portuguese­s que morreram nos últimos anos com recurso ao medicament­o que é a droga número um utilizada para a prática do suicídio assistido e da eutanásia. Este sedativo, que a nível nacional só é permitido na prática veterinári­a, é muito fácil de adquirir online, onde há todo um mercado negro dirigido a quem procura um fim indolor e vive em países onde a prática está criminaliz­ada. É mais conhecida por ‘peaceful pill’, a droga tranquila.

Dados do Instituto de Medicina Legal revelam que, em Portugal, esta droga foi responsáve­l por cinco mortes em 2018, e outras cinco já este ano. Quatro casos foram registados no Norte do País e quatro no Centro. Os outros dois tiveram lugar a sul. A idade destes portuguese­s, a quem, através de autópsia, foi encontrada a substância letal no organismo, situa-se entre os 27 e os 80 anos.

Através de uma pesquisa rápida na Internet é possível aceder a vários sites que vendem a morte. Asseguram que o processo “é seguro e discreto” e garantem ter clientes “de todo o Mundo”, nomeadamen­te “Portugal”. Os valores da substância letal, dirigida a quem deseja morrer “tranquilam­ente durante o sono”, variam entre 280 e 670 euros, dependendo da quantidade e do tipo de solução (líquida, em pó, em comprimido­s ou injetável).

JOANA TEM UMA DOENÇA DEGENERATI­VA E QUER TER LIBERDADE DE ESCOLHA

CANCRO DE JOÃO NÃO TEM CURA E O DOCENTE ADMITE PEDIR AJUDA LÁ FORA

SITES QUE VENDEM DROGA LETAL ASSEGURAM DISCRIÇÃO NO PROCESSO

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EUTANÁSIA João Cané, enfermeiro, tem uma doença terminal e quer t er di r ei t o a escolher
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Joana Silva, doente de Huntington, quer uma “morte com dignidade”

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