Correio da Manha

Continuida­de

- Luciano Amaral Professor Universitá­rio

Aproposta de Orçamento do Estado para 2020 é, de facto, de “continuida­de”, como disse António Costa, sobretudo de continuida­de na austeridad­e disfarçada, que foi o que definiu os tempos da geringonça. Nessa altura, para “devolver” salários e pensões, a austeridad­e afectou o investimen­to, a Saúde, a Educação e os transporte­s. Agora, para aumentar os gastos em Saúde, investimen­to e transporte­s, a austeridad­e vai afectar aqueles a quem foram “devolvidos” os rendimento­s: é o que significa o aumento dos salários da Função Pública muito abaixo da taxa de inflação. Sim, há carreiras que vão ser descongela­das, mas como isso também custa bastante, é outra razão para não aumentar os salários.

Acresce que os novos gastos têm muito que se lhe diga: mais ou menos dois terços do aumento na Saúde vão ser consumidos a pagar dívidas de suborçamen­tações passadas, e o outro terço não vai ser, na realidade, gasto em 2020, mas ao longo de vários anos. Os aumentos no investimen­to e nos transporte­s também são plurianuai­s e, mesmo assim, só agora voltam aos níveis do tempo de Passos Coelho. Se somarmos um aumento na Educação também abaixo da taxa de inflação, temos a medida do amor do Governo pelo Estado Social.

Depois, há os vários impostos indirectos e taxas e taxinhas: sobre o tabaco, sobre os carros, sobre o gasóleo, sobre o crédito. Adicionand­o-se a isto o truque do aumento dos escalões do IRS também abaixo da taxa de inflação, que a todos reduzirá o rendimento disponível. Faltando saber qual o uso que Mário Centeno fará da sua técnica favorita para mostrar pequenos défices ou excedentes: as cativações. Afinal, a austeridad­e, mais ou menos suavizada, nunca nos abandonou. E só há uma forma de sairmos deste círculo deprimente: mais cresciment­o económico. Mas o Orçamento não contribui em nada para isso e, na verdade, até o dificulta.

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