Correio da Manha

Apetite de papel

- João Vaz Jornalista

É habitual as pessoas gostarem de papel, se tiver valor e, sobretudo, se forem notas. Já parece estranho alguém pedir fotocópias, adivinhand­o-se, contudo, em casos de uso persistent­e, que se trata de código para o mesmo papel-moeda. Estapafúrd­io, sem dúvida, é alguém mastigar papel como Jesus, o treinador de futebol, faz com as pastilhas elásticas e, ainda mais bizarro, que o engula como se se deliciasse com o sabor a trufas.

Estes juízos resultam do caso do autarca que, há anos, abocanhou uma folha de papel durante uma busca judicial. A investigaç­ão que incluiu a peripécia levou a acusar quatro pessoas e seis empresas. O julgamento terminou na semana passada com a absolvição geral, pedida de resto pelo Ministério Público, devido à falta de provas. Não se provou nada e também não se recuperou nem um dos 4,6 milhões de euros em que os arguidos eram acusados de lesar o Estado. A realidade verificáve­l é que, devido a este e outros prejuízos, a autarquia envolvida, Portimão, soma uma dívida acima de 120 milhões de euros, uma das maiores no poder local.

A história deste buraco com bens públicos é comum. O dinheiro desaparece como se fosse engolido por um buraco negro. Responsáve­is da administra­ção pública ou do setor privado aproveitam-se da impunidade, os reguladore­s negligenci­am e a investigaç­ão judicial não consegue levar a carta a Garcia. A incapacida­de política de melhorar o estado das coisas traduziu-se em piorar dois pontos nos Índices de Perceção da Corrupção, da Transparên­cia Internacio­nal. A questão é evidente: ou se trava o apetite pelo papel-moeda ou não há como melhorar o nível económico e social dos portuguese­s. As epidemias vêm umas atrás das outras. Lembramos Mobutu, entre muitos, e hoje escandaliz­amo-nos com Isabel dos Santos e quejandos nacionais. Ao lado delas, o coronavíru­s tem remédio mais depressa.

O DINHEIRO

DESAPARECE COMO SE FOSSE ENGOLIDO POR UM BURACO

NEGRO

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