Juan Carlos, o rei tóxico
Orei emérito de Espanha, outrora um herói para gerações de espanhóis, escreveu ao filho para anunciar que ia abandonar o país e residir no estrangeiro sem revelar onde nem durante quanto tempo. Juan Carlos dificilmente poderia sair de cena com menos glória.
A ascensão do monarca começou quando soube ler os ventos da história e assumir o processo de transição para a democracia de uma Espanha bafienta por anos de franquismo. A queda começou em 2012. Enquanto o país estava à beira do resgate, com uma taxa de desemprego galopante, Juan Carlos caçava elefantes no Botsuana com uma amante num safari de 40 mil euros, pago por sauditas cujos negócios nebulosos viriam a aparecer nos Panamá Papers. Desde então, Juan Carlos tem colecionado tantos escândalos que para as gerações mais novas de espanhóis é a personificação da decadência da monarquia. Das amizades com poderosos que acabaram na cadeia até ao caso Urdangarin, que também acabou atrás das grades, Juan Carlos esteve em todas e as investigações aos seus complexos negócios estão longe do fim. As autoridades espanholas tentam desvendar a transferência feita pelo monarca para as contas suíças de Corinna Larsen, a amante e companheira de caçadas africanas.
E as ondas de choque dos desvarios de Juan Carlos não chegaram só à Justiça.
Na política, os socialistas do PSOE e a direita do PP acusam-se mutuamente por não terem travado atempadamente os excessos do monarca. Ontem, quando se soube que a fuga do rei teria sido acordada com o presidente socialista do governo, instalou-se uma crise com o Podemos, parceiro da frágil coligação espanhola, a recusar pactuar com um apoio ao exílio do monarca. Pedro Sánchez pode até afirmar que “as pessoas são julgadas e não as instituições” e que o pacto constitucional está em vigor, mas está seguramente mais fragilizado.
FUGA DO MONARCA ABRIU BRECHAS NA FRÁGIL COLIGAÇÃO DE GOVERNO EM ESPANHA