O que o Novo Banco não percebe
As vendas de ativos do Novo Banco (NB) são aprovadas pelo Conselho de Administração e posteriormente pelo Conselho Geral de Supervisão do Banco, órgãos compostos por profissionais sujeitos às hoje muito exigentes regras de conformidade impostas pelo Banco de Portugal e pelo Banco Central Europeu. Não existiriam por isso, à partida, razões para serem levantadas suspeitas sobre a adequação daquelas operações. Ainda assim, por força das particularidades da criação do Novo Banco e das injeções de dinheiros públicos envolvidas no seu processo de privatização, cada uma das operações está ainda sujeita à aprovação do Fundo de Resolução e da Comissão de Acompanhamento, entidades externas ao NB, ligadas ao Banco de Portugal e ao Ministério das
Finanças e constituídas por personalidades a quem não se conhece qualquer nódoa ou envolvimento em operações financeiras polémicas.
Nota-se nas intervenções públicas dos responsáveis pelo Novo Banco relativas às vendas dos seus ativos uma certa estupefação com o clima de suspeição generalizado. Transpira a convicção de terem agido dentro da legalidade e de acordo com o modo como o sistema financeiro tem funcionado nas últimas décadas. O Novo Banco não percebe que as regras estabelecidas internacionalmente e aceites por governos e autoridades de supervisão são incompreensíveis para os cidadãos, quando estão em causa dinheiros públicos.
Possivelmente, o que agora é vendido com alegado desconto foi sobrevalorizado quando inscrito nas contas do Banco, mas tudo o que respeita ao herdeiro do escândalo do BES é recebido de pé atrás pelo cidadão, que desconfia instintivamente de operações realizadas através de paraísos fiscais e com beneficiários que não se conhecem. A transparência das operações resolveria uma boa parte dos problemas.