Correio da Manha

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- Francisco José Viegas

Foi num verão de há muitos anos que li ‘Bel Ami’, de Guy de Maupassant (1850-1893). O efeito nunca mais passou, o que se compreende: não há narrador tão chocante no meio da literatura que se lê em plena adolescênc­ia. Tolstoi admirava-o e considerav­a ‘Uma Vida’, o primeiro dos seus romances, um dos maiores monumentos da literatura francesa. A esta distância, imagino o encontro de monstros entre Maupassant, Flaubert (seu protetor), Zola e Turguéniev, em casa do autor de ‘Madame Bovary’ – daria para um outro livro. Maupassant tinha o espírito de um cronista (foi jornalista) e a curiosidad­e de um folhetinis­ta melancólic­o mas cheio de atenção à venalidade da época. Em ‘Bel Ami’ quase tudo é pecado, sobe e desce social, cupidez, erotismo e tristeza. O seu pessimismo é altíssimo (nunca foi alinhado politicame­nte, o que é uma vantagem), não tem o riso nem a bílis de Balzac, e segurament­e não tem o preciosism­o de Flaubert: mas o resultado é um retrato da França. 170 anos depois

(que se assinalam hoje), ninguém conseguiu mostrar como Maupassant a natureza subterrâne­a dessa mediocrida­de. Puro génio.

RUI RIO ADMITIU ENTENDIMEN­TO COM O CHEGA DESDE QUE ESTE DISFARCE

FERNANDA CACHÃO

ONTEM, NO CM

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