LOUISE GLÜCK
ESCOLHA Autora norte-americana, de 77 anos, foi premiada pela sua “voz poética inconfundível” TRAUMAS Poemas de grande intensidade emocional caracterizam obra de Glück, que lutou contra a anorexia, perdeu uma irmã, passou por dois divórcios e ficou sem
A autora norte-americana, de 77 anos, foi agraciada com o Nobel da Literatura. Um reconhecimento também para a poesia, género frágil que merece estar agora no centro das atenções.
Pouco conhecida em Por-Portugal - da sua obra apenas existe um poema traduzido para português, ‘O Poder de Circe’ (Assírio & Alvim, 2001) -, Louise Glück foi ontem distinguida com o Nobel da Literatura pela sua “inconfundível voz poética”. Aos 77 anos, e com uma obra repartida entre a poesia e o ensaio, é a 16ª mulher a vencer este prémio desde a sua criação, em 1901, e a terceira norte-americana.
“A primeira coisa que pensei foi: ‘Vou ficar sem amigos.’ Porque quase todos os meus amigos são escritores”, disse Glück, ao telefone da sua casa, em Cambridge (EUA), pouco depois de conhecer a decisão da Academia Sueca. “Acima de tudo preocupa-me a preservação da minha vida normal, com as pessoas que amo”, acrescentou a autora, que aconselha quem não conhece a sua obra a começar por qualquer um dos seus livros, menos o primeiro. “A não ser que queiram sentir-se desprezados”, afirmou, adiantando que vai usar o dinheiro do prémio (cerca de um milhão de euros) para comprar uma casa em Vermont.
Louise Elisabeth Glück nasceu a 22 de abril de 1943 em Nova Iorque. Os avós eram judeus húngaros e o pai, Daniel Glück, o primeiro da família a nascer nos Estados Unidos, um aspirante a escritor que fez fortuna depois de inventar o x-ato.
Os pais ensinaram mitologia grega e incentivaram-na a escrever poesia desde muito cedo. Na adolescência, Glück travou uma dura batalha contra a anorexia. A doença obrigou-a a deixar a escola e a focar-se na terapia que, segundo a própria, a ensinou a pensar e a encontrar a sua própria voz. “A vantagem da poesia sobre a vida é que, se for forte, pode durar para sempre”, disse a autora.
Os seus poemas, muitas vezes autobiográficos e de grande intensidade emocional, são dominados por temas como o desejo, a tristeza, a solidão e o trauma - a morte da irmã, antes de Glück nascer, marcou-a profundamente, assim como os dois divórcios e o incêndio na sua casa de Vermont, que destruiu os seus pertences. Professora em Yale, estreou-se em 1968 com a coletânea de poemas ‘Firstborn’. Em
1993 venceu o prémio Pulitzer e em 2014 o
National Book
Award.
" A VANTAGEM DA POESIA É QUE PODE DURAR PARA SEMPRE"