Vasto mundo
Era jovem quando num recanto esquecido de livraria me passou este título. Vim a perceber que falava a minha linguagem, do meu mundo que já nessa altura só me fazia sentido se tivesse uma explicação ou dimensão cristã. E só a partir daí (era adolescente, quase jovem), comecei a entender que no segredo dos livros podia encontrar razões do meu viver muito além daqueles livros escolares que pensavam ser os únicos capazes de me pôr a cabeça em ordem e de me deixarem a fantasia voar como se tivesse descoberto os segredos da física ou da química…
Os tempos iam rolando, o curso prosseguindo, com eles pensava que era mais homem. E quando cada hora e cada dia eram cansativamente lentos, o tempo sem dias nem horas lembrava de repente que os anos foram passando e na sementeira da cabeça as ideias e os cabelos iam-se alterando a ponto de, a certa altura, não saber a quantas ia.
Nem sei o que este correr dos dedos sobre o teclado (a pena já andava longe) acompanhava a velocidade da fantasia e até da própria vida. “Não te inquietes, é mesmo assim, o homem é um mistério. Não escaves em excesso, porque a claridade de alma não resulta das tuas forças.”
De repente volto ao início e aí sim. Quando o espírito é criança aprende mais e melhor.
Para o que me havia de dar hoje! Não, não é disparate nem devaneio. Tudo isto se consegue sentado, com o espírito em paz, a vislumbrar horizontes que nunca conseguirás na turbulência que pensas ser a junção harmónica das pedras que erguem a torre.
Estou também a lembrar o vigia da baleia que percorre 180 graus e, de quando em vez, observa um monstro marinho que serenamente navega quase à superfície, até que um arpão cruel o penetra e o obriga a descer... e a voltar meio morto envolto num mar vermelho que é o seu próprio sangue. É que não sabe mais do que expelir o sangue que lhe resta.
TUDO ISTO SE CONSEGUE SENTADO, COM O ESPÍRITO EM PAZ, A VISLUMBRAR HORIZONTES