Correio da Manha

Natal dos hospitais

- Luciano Amaral Professor Universitá­rio

Parece que o Natal já não é quando um homem quiser, é quando um vírus quiser. Pelo menos é o que se deduz da vontade do Presidente da República em ‘repensar o Natal’, para evitar contágios familiares. O SARS-CoV-2 pode não ser muito mortífero para as pessoas mas tem sido muito eficaz a matar conversas razoáveis.

Insistamos numa certa ideia, a ver se pega. Um maior número de contágios não só pode não ser um problema como pode ser a melhor maneira de controlar a pandemia. Tudo depende da idade dos infectados. Desde os tempos do Boris Johnson pré-COVID, quando ainda não havia caído ao chão a caminho de Damasco, que a ideia de ‘imunidade de grupo’ se tornou praticamen­te sinónimo de fumigar o povo com Zyklon-B. No entanto, ‘imunidade de grupo’ é o que toda a gente quer atingir, mesmo através da vacina. Convém perceber uma coisa: a COVID não é uma doença para que se encontre uma cura, é uma doença face à qual se adquire imunidade, seja por contágio, seja por vacinação. A ideia nem sequer é que toda a gente fique imune, é que um certo número de pessoas o fique, de maneira a dificultar a chegada do vírus às que não ficam.

Por isso, deixar pessoas até aos 65 anos, cujo risco de consequênc­ias graves da doença é ínfimo, infectar-se é a primeira barreira contra a chegada do vírus a pessoas acima dessa idade, cujo risco é alto. Isto aconselha a deixar os jovens sem grandes restrições na sua vida, enquanto se protege os idosos. Um passo simples seria, desde logo, ter uma política de minimizaçã­o de contágio nos lares, onde cerca de metade das mortes ocorreram. Depois, teria de se lidar de maneira diferencia­da com outro tipo de casos.

Enfim, tudo é preferível a grandes confinamen­tos, que podem não estar assim tão longe: basta olhar para Madrid aqui ao lado, onde cerca de 7 milhões de pessoas vivem agora enclausura­das numa cerca sanitária.

TUDO É PREFERÍVEL

A GRANDES

CONFINAMEN­TOS, QUE PODEM NÃO ESTAR ASSIM TÃO LONGE

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