Correio da Manha

JUIZ RECUSA SAIR DO CASO DA MÁFIA DO SANGUE

LALANDA DE CASTRO Ex-homem-forte da Octapharma tenta afastar Carlos Alexandre invocando incidente com tio-avô há quase 50 anos RELAÇÃO Resposta revela história de vida de magistrado

- TÂNIA LARANJO/ /ARMANDO ESTEVES PEREIRA

Diz ter orgulho do seu passado e rejeita qualquer complexo ou estigma de classe. Assume ser filho de um carteiro e de uma tecelã que nos idos anos 60 e 70 custearam os colégios dos filhos com muitos esforço e custo.

Carlos Alexandre responde num texto longo a Lalanda de Castro, o ex-homem-forte da Octapharma, que agora o quer afastar da instrução do processo Máfia do Sangue. O empresário assegura que Alexandre conheceu o seu tio-avô, também natural de Mação, onde o juiz nasceu e cresceu. E que havia um litigio antigo, por provirem de classes sociais diferentes, que torna o magistrado suspeito para apreciar este caso.

A resposta do juiz - um documento que ontem mesmo entrou no Tribunal da Relação de Lisboa - é longa. Alexandre lamenta que a sua vida privada seja trazida para um processo judicial, ainda mais sobre algo que diz respeito à sua família. Mas diz não ter vergonha das suas origens e recorda que em 1972, quando o pai construía uma modesta casa, foi mesmo o tio-avô de Lalanda de Castro quem cortou eucaliptos para ajudar na construção da habitação. A sua família não tinha recursos, lembra, e Anastácio Nogueira Lalanda ajudava muitos dos seus alunos. O que também fez consigo e com outros da sua idade que apostaram na educação como forma de ‘ascensão social’.

“O facto de ser pobre ao longo de toda a vida, não é anátema nem lhe provoca sentimento­s hostis, recalcitrâ­ncia ou ressabiame­nto contra ninguém”, esclarece o juiz do Tribunal Central lembrando que o tio avô de Lalanda e Castro foi efetivamen­te seu professor primário, quando tinha menos de dez anos. Ofereceu-lhe inclusivam­ente uma gramática e outros livros raros que ainda hoje guarda com carinho. No requerimen­to, o juiz Carlos Alexandre dá sem efeito todas as diligência­s marcadas para as próximas duas semanas e pede celeridade aos juízes desembarga­dores. Sem tomar um posição sobre o pedido de afastament­o, pede aos juízes que apreciem se uma relação de infância e adolescênc­ia pode pôr em causa a sua independên­cia. E diz ainda que tem uma carreira que dispensa apresentaç­ões e que é um dos três juízes mais bem classifica­dos a nível nacional.

NÃO ESCONDE ORIGENS HUMILDES E REJEITA ESTIGMA DE CLASSES

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Carlos Alexandre recusa sair do caso Octapharma e garante não ter qualquer litígio com familiar de Lalanda

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