Make My Day, Catarina!
Quando o escorpião pediu à rã que o transportasse às costas para a outra margem do lago, esta recusou-se, alegando que o escorpião a mataria com uma picada. Que disparate, disse o escorpião, se te picar, morro afogado. Convencida pela crueza do argumento fatal, a rã acedeu ao pedido. A meio da travessia, o escorpião picou-a e ambos morreram, ela envenenada, ele afogado - não foi capaz de contrariar a sua natureza.
Só a natureza desleal pode justificar as razões do Bloco do Escorpião para não aprovar a proposta de Orçamento do Estado. Afinal, não há dinheiro para o Novo Banco, os orçamentos da Saúde e da Educação são substancialmente reforçados com gente e dinheiro, são reforçadas as políticas de habitação e dos transportes públicos e é garantido um novo apoio social extraordinário com valor de referência no limiar de pobreza (501 €). Além disso, o aumento extraordinário das pensões mais baixas, a redução da retenção na fonte dos salários, a redução do IVA da eletricidade e a devolução do
IVA pago em despesas de restauração, alojamento e cultura deixarão perto de 550 M € no bolso das famílias. Os apoios públicos ficam condicionados à manutenção do nível de emprego nas grandes empresas com lucros e é criada uma moratória de 24 meses à caducidade das convenções coletivas de trabalho. Não há aumento de impostos nem redução de salários.
Nas duas últimas eleições legislativas, o Bloco de Esquerda convenceu parte do eleitorado de esquerda de que o PS sozinho não oferecia suficientes garantias de governar à esquerda e que sem o policiamento do Bloco estaríamos condenados a uma governação de direita. Neste momento, António Costa, que tanto quanto sei não fuma, está com uma cigarrilha entre os dentes e sorrindo murmura: “Make my day, Catarina.”