SANTA CASA PROCURA FAMÍLIAS MOTIVADAS
ASanta Casa da Misericórdia de Lisboa, em parceria com a S e g u r a nça S o c i a l , reativou o programa de famílias de acolhimento para crianças retiradas às suas famílias biológicas. Ana Gaspar, coordenadora da Unidade de Adoção, Apadrinhamento Civil e Acolhimento Familiar, explica em que moldes decorre este apoio .
- A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa lançou no final do ano passado uma campanha para captação de famílias de acolhimento para crianças com menos de 6 anos. Quantas famílias conseguiram integrar?
- A campanha teve dois momentos, em novembro e em janeiro, e recebemos 500 contactos. Destes, houve 200 pessoas que participaram na secção informativa e temos neste momento 33 famílias selecionadas e já a acolher crianças. Estão outras 59 fa
PROGRAMA REGRESSOU ESTE ANO EM NOVOS MOLDES E JÁ SUPEROU AS EXPECTATIVAS
mílias em avaliação, o que significa que superámos largamente o primeiro objetivo: integrar 100 famílias (25 por ano) até 2024.
- Continuam à procura?
- Continuamos. O primeiro objetivo eram as 100 famílias, mas o ideal era termos muito mais famílias para acolher crianças mais velhas e outras que já estão em processo de adotabilidade. Somos muito repreendidos a nível internacional por sermos o País da Europa com mais crianças em acolhimento residencial, que comprovadamente não é o melhor sistema.
- Quais os benefícios do acolhimento familiar relativamente ao residencial?
- Sabemos que o desenvolvimento das crianças, especialmente no caso dos bebés institucionalizados, sofre um atraso. E não é porque as instituições não sejam boas ou porque as pessoas não sejam dedicadas. É porque hoje é uma pessoa que deita o bebé ou que lhe dá o biberão, mas amanhã já é outra que o acorda. Está provado que nos primeiros meses de vida, fase em que se dá a maioria das sinapses cerebrais, é preciso estabilidade dos cuidadores e uma motivação constante do desenvolvimento cognitivo, tal como acontece numa família.
- Há um padrão nas famílias que se candidatam?
-Temos famílias variadas: numerosas com vários filhos pequenos, com filhos já autónomos, monoparentais com uma ou mais crianças, um casal homossexual. Não há um padrão perfeito, há o ‘match’ perfeito. Cada criança tem necessidades individuais próprias e cada família é única. Há famílias mais adequadas para algumas crianças e tentamos que a experiência resulte muito bem quer para a criança, quer para a família. Temos seis equipas técnicas no terreno, que integram uma psicóloga e um técnico de serviço social, que conhecem muito bem as famílias e fazem este acompanhamento.
- A que requisitos estas famílias precisam de obedecer?
- A motivação tem de ser a possibilidade de ajudar aquela criança e não razões pessoais. Devem oferecer estabilidade e o apoio da rede alargada também é tido em conta. Devem estar preparadas para integrarem o projeto de vida da criança até à adoção ou até à restituição à família original, e cientes de que isso pode demorar anos ou apenas alguns meses. Essa é a parte mais difícil.