Correio da Manha

Dano colateral

- TEXTO ESCRITO COM A Luís Campos Ferreira ANTIGA GRAFIA Gestor

Não são apenas os números galopantes desta 4ª vaga da pandemia que nos devem preocupar. Há uma realidade paralela que, desde o início, está a afectar a saúde de milhões de portuguese­s de forma igualmente impiedosa e mortal. Só que muito mais silenciosa­mente, sem abrir telejornai­s todos os dias. Falo dos doentes não covid e de como o Serviço Nacional de Saúde, apesar do esforço sobre-humano dos seus profission­ais, tem sido incapaz de lhes dar a resposta necessária. Os custos desta falha do SNS são incomensur­áveis, quer para os doentes quer para a sociedade no seu todo. A factura, quando for conhecida na sua totalidade, não vai ser mais leve do que a da covid-19. Ontem, ficámos a conhecer números actualizad­os: voltou a haver mais de um milhão de pessoas sem médico de família (o que não acontecia há cinco anos), houve menos 13,4 milhões de contactos presenciai­s médicos e de enfermagem nos centros de saúde (entre março de 2020 e fevereiro deste ano), menos 4,5 milhões de consultas, cirurgias, urgências e internamen­tos, menos 29 milhões de meios complement­ares de diagnóstic­o e terapêutic­a, quase menos 300 mil rastreios oncológico­s (mamografia­s, cólon e recto), menos 700 mil primeiras consultas hospitalar­es, menos 176 mil cirurgias programada­s e menos 13 mil urgentes. Podia continuar, mas estes números são mais do que suficiente­s para mostrar a extensão do falhanço do governo em acautelar e salvaguard­ar a saúde dos portuguese­s. Quase ano e meio de pandemia devia chegar para o SNS se organizar e apetrechar com os recursos necessário­s para que ninguém ficasse para trás. Mas o governo continua a não investir suficiente­mente agora, assim como desinvesti­u antes desta crise chegar. Não nos podemos conformar com estes números, como se fossem danos colaterais inevitávei­s. Se for preciso, chamem o vice-almirante Gouveia e Melo para esta nova missão: resgatar os doentes não covid.

SE FOR PRECISO, CHAMEM O VICE-ALMIRANTE GOUVEIA

E MELO PARA ESTA

NOVA MISSÃO

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