Correio da Manha

Muita parra

- Manuel Maria Rodrigues INVESTIGAD­OR CRIMINAL

Fruto da experiênci­a profission­al e do interesse por tudo inerente aos denominado­s crimes de colarinho branco, ou seja, corrupção, tráfico de influência­s, burlas de milhões, dissipação de bens e valores, branqueame­nto de capitais e outros, sempre fui de opinião que a justiça, para além da eventual necessidad­e de aplicação de penas privativas de liberdade, deve atuar precisamen­te onde mais dói a este tipo de criminosos, ou seja, sobre os bens provenient­es da atividade ilícita. Tal impõe o arresto de contas e bens, essencialm­ente quando em causa estão elevadas quan

A JUSTIÇA MERCANTILI­ZOU-SE, PERDEU A DIGNIDADE

tias que sorvem os recursos do país, obrigando o cidadão contribuin­te à reposição dos desfalques. Esta linha de aplicação da justiça não pode ser confundida com a moda de cauções supra milionária­s que se instalou na justiça portuguesa, trazendo à colação o valor do preço da liberdade! 5 milhões, 3 milhões, 600 mil, 10 Euros? Ninguém entende que, mantendo-se os pressupost­os da prisão preventiva, alguém possa ficar detido na sua mansão, apenas uns dias, enquanto não paga a sua liberdade. A justiça mercantili­zou-se, perdeu a dignidade que lhe devia ser reconhecid­a. A operação ‘Cartão Vermelho’ também o foi para a própria justiça. Isto é combater a corrupção? Tenho sérias dúvidas…

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