Medicamentos contra dores batem recorde
Portugueses compram perto de 11 600 caixas por dia destes remédios com prescrição
Oconsumo de medicamentos opioides está a crescer em Portugal e a pandemia potenciou a procura destes derivados morfínicos “porque as pessoas, quando andam mais ansiosas, somatizam mais” e sentem–ou relatam– mais dor, diz o psiquiatra Pedro Carvalho. Se em 2019 foram consumidas cerca de 4,1 milhões de embalagens destes medicamentos (11 215 por dia), em 2020 o número atingiu perto de 4,2 milhões (11 350/dia), revelam dados cedidos ao CM pelo Infarmed.
Neste ano, só em quatro meses, de janeiro a abril, os portugueses já consumiram quase 1,4 milhões de caixas de remédios opioides (aproximadamente 11 600 por dia). Armando Barbosa, anesteseologista e especialista no tratamento da dor, garante, porém, que “apesar de haver o risco desses medicamentos serem consumidos para fins recreativos, em Portugal não existe um consumo excessivo destas substâncias, que são receitadas sob prescrição médica com controlo grande”. O médico relaciona o aumento do consumo de medicamentos opioides com o envelhecimento da população.
“A dor crónica está associada ao avançar da idade: quanto mais idosos somos, mais dores temos e as doenças osteoarticulares e degenerativas justificam a necessidade de recorrer a esse ti pode medicação ”, sublinha Armando Barbosa, lembrando que o primeiro confinamento foi um momento crítico. “O facto de as pessoas terem deixado de ter uma vida ativa, terem-se tornado mais sedentárias, levou à perda de massa muscular e, consequentemente, aumentou a incidência da dor crónica”, explica.
Pedro Carvalho diz que é expectável que, a par dos antidepressivos e das benzodiazepinas, o consumo de opioides venha a aumentar ainda mais no pós-Covid. “As depressões dão-se sempre no pós-guerra. Até lá ainda temos a adrenalina a funcionar”, alerta.
DEPENDÊNCIA PODERÁ AGRAVAR-SE AINDA MAIS NO PERÍODO PÓS-COVID