Correio da Manha

Desigualda­des

- João Vaz Jornalista

Este problema não se resolve com remodelaçã­o ministeria­l, nem com revisão constituci­onal, para só referir duas iniciativa­s em foco na agenda política. De facto, as desigualda­des são consequênc­ia do próprio funcioname­nto das sociedades. Resultam do maior rendimento do capital quando comparado com o do trabalho, da inação do poder político e até de causas boas como a perspicáci­a nos negócios, a inteligênc­ia que faz subir no elevador social da escola e o talento para as artes e entretenim­ento. Para complicar a questão, a História mostra que o fosso das desigualda­des apenas se reduziu na sequência do pior, de guerras devastador­as, pandemias e calamidade­s naturais. Ainda assim, as desigualda­des constituem motivo de alarme e revolta porque envolvem sofrimento próprio ou de pessoas próximas e representa­m uma injustiça que o humanismo não aceita.

A atual situação é inquietant­e. Portugal não está incólume às derivas que esbateram as iniciativa­s igualitári­as do pós-Segunda Guerra Mundial 1939-45. O conflito com cerca de 75 milhões de mortos funcionou como rebate à igualdade, mas a pressão dos mais ricos sobre o poder legislativ­o e as portas abertas à evasão fiscal prejudicam hoje a justiça redistribu­tiva.

Não existe no agravament­o das desigualda­des qualquer fator peculiar português, mas assusta a forma discricion­ária como aqui se aplica o Estado de direito, ou seja, como responsáve­is pela sua execução se eximem ao cumpriment­o da lei. No Reino Unido, o ministro da Saúde foi há semanas obrigado a demitir-se por não cumprir as leis que estipulou. Em Portugal, os poderosos da política e do dinheiro vivem acima da lei, num arbítrio intoleráve­l. O rol de abusos noticiados todos os dias é intermináv­el e o leitor faz facilmente a sua lista de prepotente­s. Não há sociedade onde a vontade de igualdade consiga resistir a tanta arbitrarie­dade.

EM PORTUGAL, OS PODEROSOS DA POLÍTICA E DO DINHEIRO VIVEM

ACIMA DA LEI

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