Pela Estrada Fora
Acabados os debates quinzenais com o Primeiro-Ministro, as idas do chefe do governo à Assembleia da República tornaram-se mais raras e rodeadas de maior expectativa.
O debate anual sobre o Estado da Nação, que decorre hoje à tarde, constitui uma oportunidade única para surgimento de alternativas políticas, sociais e económicas. O que seria diferente? O que mudaria com outros protagonistas à frente do país? Se não estamos hoje melhor do que estávamos antes da pandemia, estaríamos melhor se tivéssemos seguido outros caminhos? Teria sido possível ir mais além na sustentação das empresas e mesmo de sectores económicos inteiros? Teria o país recursos para alargar os apoios aos rendimentos das pessoas? Quem nos oferece, neste contexto de dificuldade em que vive o país, a Europa e o mundo, uma melhor perspetiva para a recuperação da economia e a normalização das nossas vidas?
Um ano e meio de pandemia deixou por todo o mundo, mais desenvolvido ou menos desenvolvido, um rasto severo de sequelas sanitárias, sociais e económicas, que só os tolos poderiam ignorar. É por isso natural que os caminhos se vão estreitando e a insatisfação das pessoas cresça, sensíveis aos perigos da redução dos seus rendimentos, à pressão fiscal, ao aumento dos preços de bens essenciais, às esperas prolongadas por cuidados de saúde ou às arbitrariedades e contradições frequentes nas restrições aos seus direitos, liberdades e garantias.
Não espanta por isso que um estudo de opinião divulgado no passado fim-de-semana revele uma forte penalização dos principais protagonistas políticos do país, como não espanta que a ninguém aproveite esse desgaste. Agarrados aos casos de inépcias ou azares ministeriais, as oposições não têm conseguido apontar caminhos seguros e entre azinhagas e estradas escuras, as pessoas preferem continuar na mesma estrada.