Correio da Manha

SÓCRATES TENTA TUDO PARA ESCAPAR A JULGAMENTO

RECURSO Defesa do antigo primeiro-ministro arrasa juiz Ivo Rosa e, ao mesmo tempo, apoia-se no Ministério Público CASO Recurso para a Relação de Lisboa para travar início do julgamento

- DÉBORA CARVALHO

Adefesa do antigo primeiro-ministro José Sócrates arrasa o juiz de instrução criminal Ivo Rosa no recurso em que pede a nulidade da decisão instrutóri­a da Operação Marquês. Mas, no mesmo documento, também sai em defesa do procurador Rosário Teixeira, o mesmo que acusou Sócrates de receber milhões de euros em subornos. O antigo primeiro-ministro dispara em todas as direções. O objetivo é não ser já julgado por branqueame­nto de capitais e falsificaç­ão de documentos.

Na decisão instrutóri­a, conhecida em abril, o juiz Ivo Rosa despronunc­iou a maioria dos arguidos - mandou apenas cinco dos 28 arguidos para julgamento - e deixou cair dezenas de crimes. Para o magistrado, Carlos Santos Silva, amigo de Sócrates, passou de alegado testa de ferro a principal corruptor do antigo governante. Esta alteração substancia­l dos factos colocou o Ministério Público (MP) e as defesas de Sócrates e Santos Silva no mesmo lado - todos já recorreram desta decisão para o Tribunal da Relação de Lisboa.

“Para que ocorressem estas alterações foi necessário, citando a já clássica e expressiva imagem da literatura jurídica, criar ‘um novo pedaço de vida’ construind­o toda uma nova narrativa, adicionand­o, alterando e repescando factos que não têm qualquer relação contextual com o facto típico novo que se introduziu na pronúncia”, critica a defesa de Sócrates, que ironiza: “O corruptor ativo afinal era outro.”

Sócrates foi ilibado dos três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político de que estava acusado. Ivo Rosa considera que os crimes já prescrever­am. O mesmo aconteceu com a fraude fiscal qualificad­a. A Relação de Lisboa terá ainda de decidir se os recursos têm efeito suspensivo (como sustentam as defesas), ou seja, se o julgamento de Sócrates e do amigo pode arrancar sem a decisão dos desembarga­dores.

No recurso, de quase 100 páginas, a que o CM teve acesso, a defesa de Sócrates vai mais longe: fala numa “névoa que é associada à nova narrativa, depois de desmontada a anterior, e a natureza etérea, fluida e até volátil dos novos indícios deixa à defesa o ónus de esgrimir contra ‘moinhos de vento’”.

Em vários momentos, a defesa de Sócrates dá razão ao MP. “Foi mesmo recusado ao Ministério Público deixar em ata o requerimen­to para prorrogaçã­o do prazo de recurso”, pode ler-se no recurso, no qual é criticada a postura do juiz no dia da leitura da decisão instrutóri­a. Para Rosário Teixeira, os factos tal como constam da pronúncia “não são verosímeis nem autonomizá­veis”. Sócrates lembra isso e adianta que “não faz sentido prosseguir um julgamento sem estabiliza­r uma posição acusatória definitiva”.

“O CORRUPTOR ATIVO AFINAL ERA OUTRO”, DISPARA A DEFESA

SÓCRATES CRITICA O FACTO DE JUIZ IMPEDIR MP DE FAZER REQUERIMEN­TO

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1Sócrates durante a instrução do processo Marquês 2I vo Rosa entende que antigo primeiro-ministro deve ser julgado
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Car l o s Sant o s Si l v a é arguido

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