A falha do rigor alemão
Da Alemanha habituamo-nos à imagem de organização, rigor e eficácia na resposta. Talvez por isso ainda olhamos com incredulidade para a violência causada pelas chuvadas e enxurradas que mataram mais de 160 pessoas, fizeram desaparecer várias dezenas e destruíram povoações. À narrativa oficiosa dava jeito atirar para o já costumeiro aquecimento global a culpa pelos males causados por tão agressiva revolta das águas. Acontece que, sabe-se agora, o sofisticado sistema de alertas meteorológicos que a Europa dispõe funcionou e as autoridades alemãs – tal como as da Bélgica e o Luxemburgo, países igualmente afetados pela catástrofe – foram avisadas para o que poderia acontecer. Então, o que falhou?
Jeff da Costa, especialista de hidrometeorologia na Universidade de Reading, no Reino Unido, garantiu à CNN que “houve claramente uma falha de comunicação” que impediu uma rápida atuação e a garantia que as populações abandonavam em segurança as zonas de risco que acabariam engolidas pelas águas dos rios Reno e Ahr.
O fracasso do rigor alemão é mais nítido se olharmos para a vizinhança. Nos Países Baixos, onde também choveu copiosamente, nenhuma povoação sofreu danos graves com a intempérie e não se registaram quaisquer vítimas. Ao contrário dos vizinhos europeus, a unidade territorial dos Países Baixos depende há muito de uma gestão titânica da água. A coordenação hídrica holandesa não está dispersa por organismos nacionais, regionais e locais sem especialização técnica nem capacidade de articulação em tempo de crise. Nos Países Baixos, um só organismo, com competências de direção-geral, decide sobre este importante recurso e define quais e o valor dos impostos alocados à execução destas tarefas, evitando taxas e tachinhas inúteis. Porque o aquecimento global é real e, no futuro, teremos mais frequentemente situações adversas, adotar boas práticas pode salvar vidas.
FRACASSO DA ALEMANHA É MAIS NÍTIDO SE COMPARADO COM EFICÁCIA HOLANDESA