O povo é quem mais ordena
TALVEZ ESTAS AUTÁRQUICAS TENHAM DADO OS
DOIS ANOS QUE FALTAVAM A RIO
Comecemos pelas grandes derrotadas da noite eleitoral autárquica: as sondagens. Em praticamente nenhuma corrida relevante deram um retrato fiel do que veio a acontecer: o caso mais notório é o de Lisboa, onde, ganhe quem ganhar (à hora de entrega do artigo ainda não se sabe), nada se assemelha à vitória tranquila de Medina que previram, mas o mesmo sucedeu no Porto (onde o PSD teve um resultado muito superior ao antecipado e Moreira pior), Coimbra (onde a vitória do PSD foi folgada como não se previa), na Amadora (onde Suzana Garcia teve muito mais do que previsto) ou em Almada (onde a vitória do PS foi muito mais larga). Depois, mencione-se o grande vencedor: o povo, e a sua capacidade para surpreender através da democracia, tantas vezes contrariando as ‘narrativas’ comunicacionais. É mesmo quem mais ordena.
O resultado de Lisboa é o mais surpreendente, mas não é tão fácil fazer uma ‘leitura nacional’ quanto se julga: a capital tem as suas particularidades regionais, o seu paroquialismo, com vários descontentamentos locais, do preço das casas às ciclovias, passando pela ‘invasão francesa’ de muitos bairros. A leitura nacional não é óbvia, mas o PSD vai fazê-la, juntando-lhe a vitória estrondosa de Coimbra e resultados não tão negativos nas áreas metropolitanas. Talvez estas Autárquicas tenham dado os dois anos que faltavam a Rio para se apresentar às Legislativas. Um mau resultado teria libertado todos os lacraus. E assim fica tudo em aberto para 2023, com um Costa em fim de ciclo e o PS em plena luta de sucessão. Será que Rio ainda chega lá?
E depois há os novos fenómenos, que vieram para ficar: Chega e Iniciativa Liberal. Aqui é que há leitura nacional: em Legislativas, com eles Moedas teria maioria. É mais ou menos óbvio: bem liderada, a direita vale mais do que parece. Certas soluções metem-se pelos olhos dentro.