Resistir ao mal
Tendo terminado a leitura de um livro sobre a casa dos Habsburgos (o Sacro-Império, uma dinastia de criadores e poderosos cujos domínios se estenderam da Europa à Ásia e às Américas) deparo-me com o nome de Otto Von Habsburgo, o último arquiduque da Áustria, um dos sobreviventes dessa família odiada por Hitler, e cujo salvo-conduto para Portugal foi passado por Aristides de Sousa Mendes naquele ano de 1940. É um pormenor na vida do cônsul que, diante da barbárie e da perseguição nazi, desobedeceu ao governo e decidiu que dará “vistos a toda a gente; já não há nacionalidades, raça ou religião”. Não foi o único funcionário diplomático que o fez (os casos de Sampaio Garrido, Teixeira Branquinho ou Veiga Simões dariam grandes histórias), mas foi o que mais gravemente sofreu o castigo do regime e aquele cuja história atingiu maior dramatismo. É incerto e discutido o número daqueles que Aristides de Sousa Mendes salvou da captura certa pela Alemanha – mas cada um deles será (sobretudo depois de se ter conhecido a dimensão do horror planeado e executado pelo nazismo) uma árvore plantada no bosque dos justos. Esta chegada ao Panteão, onde outros portugueses também aguardam entrada, é uma espécie de reparação com anos de atraso; o lugar de Aristides é o de um símbolo da capacidade de resistir ao mal e de agir no meio do turbilhão. Nos momentos de destruição e extermínio, nenhuma outra razão é válida senão a de salvar a humanidade. A História encarrega-se, depois, de indicar os nomes a quem coube um papel nesse destino – e Aristides está entre eles.
O LUGAR DE ARISTIDES É O DE UM SÍMBOLO
DA CAPACIDADE DE RESISTIR AO MAL