Correio da Manha

Maria do Jerricã

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Quem já viu telediscos de cantores românticos sabe como é: quando estão tristes (porque o amor foi embora) chove lá fora, quando estão felizes é só passeios na praia ao pôr do sol com um pastor alemão todo catita. E não são só os cantores, todos nós somos um pouco assim.

Se a vida nos corre mal, o fim do mundo está próximo. Mas se nos sai a lotaria, até Paulo Rangel parece um bom líder para o PSD.

Agora, a malta da direita anda meio neurasténi­ca, entre a euforia da vitória (cheira a Lisboa) e a deprimênci­a de estarem afastados do executivo há lustros. Enfim, seis anos. A chatice é que, para quem acha que nasceu para mandar, seis anitos parecem seis séculos.

Bom cantor romântico, o presidente vitalício do ACP deu uma entrevista na qual repete um par de vezes um mau augúrio tão dantesco que mais parece um desejo: “As pessoas estão cada vez mais revoltadas e qualquer dia vão explodir”, disse Carlos Barbosa ao Inevitável. Ser dantesco só fica bem no ano em que celebramos Dante, o autor da ‘Divina Comédia’, um dos livros-pilares da nossa civilizaçã­o. Convém é, durante uns dias, não aproximar o bom Barbosa de uma bomba de gasolina. Só por causa das coisas, não vá fazer faísca e dar-se um acidente.

Onde ouvimos já palavras funestas como estas? Ah sim, no fiasco dos coletes amarelos, em 2018, quando iam “armar uma ganda-revolta no país” e a montanha pariu um rato. Como a vida dá muitas voltas, quem então se sentiu ridiculari­zado fareja agora que, se calhar, desta é que é. E quem sou para dizer que não seja? Pelo sim, pelo não, até já atestei a despensa e, como no início da pandemia, comprei 3546 rolos de papel higiénico. Assim, como diz quem não gosta das minhas crónicas, posso escrever m**** até dezembro.

O problema é que, sendo o PSD um partido de poder, e a maioria dos eleitores oscilar sempre entre PSD e PS, como conseguirã­o conciliar um stressado “Vamos partir isto tudo!” com um sereno e civil “Amigos, temos de ser responsáve­is”? É um drama. É um drama não só para o PSD, mas também para o CDS-PP, pois ambas as lideranças vão a votos em breve. É que, se a crise que alguns desejam vier mesmo aí, arriscam-se a ser apanhados de calças na mão, limpando armas em plena revolta de Maria da Fonte. Perdão, de Maria do Jerricã.

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