Correio da Manha

Esquerda eterna

- Luciano Amaral Professor Universitá­rio

Aatitude de PCP e BE face ao orçamento de 2022 seria incompreen­sível não fosse tratar-se de uma típica rábula de esquerda. Os mesmos partidos que aprovaram ou deixaram passar os seis orçamentos anteriores, os quais não vinham associados a metade das medidas ‘de esquerda’ deste, ameaçam chumbá-lo. Ao fim de seis anos, o PS propõe rever aspectos da legislação laboral introduzid­os pela troika, uma reclamação de PCP e BE desde 2012. Também dá passos para a exclusivid­ade dos médicos do SNS e do estatuto dos trabalhado­res da cultura. Mas parece que PCP e BE preferem não obter nada e até, possivelme­nte, devolver o poder à direita (havendo eleições antecipada­s) do que conseguir incremento­s positivos da sua agenda política. É a esquerda radical eterna, para quem a política do pior é melhor do que melhoramen­tos parciais. É uma das eternas fraturas internas da esquerda, entre o reformismo que melhora alguma coisa e o maximalism­o que só ficará satisfeito com o fim do ‘sistema’.

É pior do que isso: PCP e BE recusam melhoramen­tos em nome de simples cálculo eleitoral. Têm medo de perder votantes até 2023, julgando recuperar a aura radical agora, sustendo a sua queda, mesmo se isso põe termo à geringonça. A popularida­de da geringonça resultou do seu aspecto funcional, associando um certo realismo à governação da esquerda. Ora, estas trapalhada­s negociais desfazem essa ideia.

Mais: com a crise energética (que, na verdade, é uma crise social) e o Inverno a chegar, aquilo que parecia inconcebív­el há umas semanas, uma vitória do PSD, já não parece. O PSD agradecerá ao PCP e ao BE.

AQUILO QUE PARECIA

INCONCEBÍV­EL HÁ UMAS SEMANAS,

UMA VITÓRIA DO PSD,

JÁ NÃO PARECE

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