Esquerda eterna
Aatitude de PCP e BE face ao orçamento de 2022 seria incompreensível não fosse tratar-se de uma típica rábula de esquerda. Os mesmos partidos que aprovaram ou deixaram passar os seis orçamentos anteriores, os quais não vinham associados a metade das medidas ‘de esquerda’ deste, ameaçam chumbá-lo. Ao fim de seis anos, o PS propõe rever aspectos da legislação laboral introduzidos pela troika, uma reclamação de PCP e BE desde 2012. Também dá passos para a exclusividade dos médicos do SNS e do estatuto dos trabalhadores da cultura. Mas parece que PCP e BE preferem não obter nada e até, possivelmente, devolver o poder à direita (havendo eleições antecipadas) do que conseguir incrementos positivos da sua agenda política. É a esquerda radical eterna, para quem a política do pior é melhor do que melhoramentos parciais. É uma das eternas fraturas internas da esquerda, entre o reformismo que melhora alguma coisa e o maximalismo que só ficará satisfeito com o fim do ‘sistema’.
É pior do que isso: PCP e BE recusam melhoramentos em nome de simples cálculo eleitoral. Têm medo de perder votantes até 2023, julgando recuperar a aura radical agora, sustendo a sua queda, mesmo se isso põe termo à geringonça. A popularidade da geringonça resultou do seu aspecto funcional, associando um certo realismo à governação da esquerda. Ora, estas trapalhadas negociais desfazem essa ideia.
Mais: com a crise energética (que, na verdade, é uma crise social) e o Inverno a chegar, aquilo que parecia inconcebível há umas semanas, uma vitória do PSD, já não parece. O PSD agradecerá ao PCP e ao BE.
AQUILO QUE PARECIA
INCONCEBÍVEL HÁ UMAS SEMANAS,
UMA VITÓRIA DO PSD,
JÁ NÃO PARECE