Correio da Manha

Uma vida errante que deu um filme de sucesso

- R.P.V.

Pouco habituado a sucessos de crítica e de público, o cinema português acolheu de braços abertos a produção que, em 2019, contou ao detalhe a vida de António Joaquim Rodrigues Ribeiro. ‘Variações’, para variar, levou às salas 280 mil espectador­es e tornou-se o quarto maior êxito de bilheteira (desde que começou a haver registo detalhado, em 2004) de um filme em português, com quase 1,5 milhões de euros de receitas. A chave do sucesso? Uma abordagem simples sem ser simplista de um artista que lutou por um sonho para lá de qualquer preconceit­o. A chegada a Lisboa, a experiênci­a como barbeiro e os esforços para vingar na música, além do afeto pela mãe e a história de amor mal resolvida com Fernando Ataíde (interpreta­do pelo saudoso Filipe Duarte), são abordados com engenho e sensibilid­ade, neste trabalho dirigido por João Maia, que tinha em mãos o argumento sobre a figura de Variações desde 2005.

O filme funciona e grande parte do mérito vai para a entrega do ator Sérgio Praia, que copiou os trejeitos e o estilo de uma figura que está colada à música pop em português, apesar de só ter editado dois discos, ‘Anjo da Guarda’ (1983) e ‘Dar & Receber’ (1984). Praia é um caso raro de incorporaç­ão em que o ator quase desaparece e, em vários momentos, temos a ilusão de estar a ver o próprio Variações no ecrã.

Além da exigência dramática na interpreta­ção de um homem vulnerável, o ator aceitou o desafio de cantar os temas que todos conhecem sem recurso a playback. Uma prova também nesse aspeto superada com distinção.

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