LUCRO PROMOTOR IMOBILIÁRIO GANHA MILHÕES EM MEIA HORA
ARQUIVADO Justiça não encontrou indícios de crime, porque não foi possível deduzir provas de corrupção DINHEIRO Empresário diz que nunca recebeu os 16 milhões que estavam prometidos
Um negócio milionário em que a Justiça não viu indícios de crime porque não foi possível demonstrar o nexo de causalidade de qualquer ato de corrupção. ‘O milagre de Valongo’ gerou lucros milionários a um particular que inflacionou um terreno em cerca de 500 por cento em apenas meia hora. Mas a Justiça nunca conseguiu provar que de facto recebeu o dinheiro.
“Foi em 2011, quando um promotor imobiliário tinha no bolso um documento milagroso escrito pelo vereador do Urbanismo. O autarca de Valongo dizia que um determinado terreno, que tinha uma parte de reserva ecológica nacional e outra não edificante, passava a ter capacidade construtiva. E o que valia quatro milhões às quatro da tarde passou a valer 20 milhões às 16h30”, lembrou ao Correio da Manhã Paulo Morais, fundador da Associação Transparência e Integridade que chegou a apresentar queixa no Ministério Público.
Os protagonistas deste caso foram Jaime Resende, deputado da Assembleia Municipal de Matosinhos e familiar do histórico ex-presidente da câmara daquele concelho, Narciso Miranda, e José Luís Pinto, então autarca em Valongo.
Jaime Resende comprou várias parcelas de terreno - por exemplo, à Portucel foram adquiridos quatro terrenos por 380 mil euros, que depois foram vendidos por 2,2 milhões de euros - tendo sido todas escrituradas no mesmo dia. “Uns devem ter saído pela porta da frente,
para outros entrarem pela porta traseira. No notário vê-se que as escrituras são feitas de seguida, a numeração revela que nem sequer houve outros ‘clientes’ naqueles minutos”, continua Paulo Morais, que diz que a Justiça não atuou. “O promotor veio dizer que nunca chegou a receber os 20 milhões e que só teve um lucro de pouco mais de um milhão. Mas esses eram de facto os valores que estavam na escritura e nunca foi explicado como é que ele tinha um documento que prometia a alteração do Plano Diretor Municipal”, concluiu.
PAULO MORAIS
DENUNCIOU CASO À JUSTIÇA. FOI ARQUIVADO