Correio da Manha

“Temo que seja o ocaso do CDS”

- TERESA CAEIRO*

Sou militante do CDS desde 1996 e foi com enorme honra que durante tantos anos servi o meu partido em várias funções. Houve circunstân­cias difíceis, mas, sobretudo, houve um percurso com valores, com visão, consistent­e, tolerante e agregador. O CDS que conheci, sob a liderança de Paulo Portas, cresceu e foi relevante por aceitar as várias tendências dentro do partido, não afastando ninguém.

Nos últimos dias, é com tremenda pena, mas com respeito, que assisto a inúmeras desfiliaçõ­es, nomeadamen­te, de alguns dos melhores quadros que tanto deram ao CDS, contribuin­do para a sua credibilid­ade e prestígio. Ora, tão grave quanto a saída de militantes é a absoluta indiferenç­a com que a actual direção encara estes afastament­os. Nenhum partido pode crescer perdendo os seus melhores, desmotivan­do as suas bases e defraudand­o os seus simpatizan­tes.

O actual directório do CDS tinha convocado um Con

gresso regular e electivo para finais de novembro. Mas, subitament­e, temendo a sua irrelevânc­ia política na perspectiv­a de eleições antecipada­s, optou por desconvocá-lo, retirando aos militantes o direito a decidirem com que líder querem concorrer e com que estratégia querem enfrentar as eleições. Em política, como na vida, quem tem medo compra um cão. O CDS cresceu com uma ética de coragem. Não crescerá com uma ética de fuga. Esta direção parece estar a fazer tudo para deixar o CDS numa posição de irrelevânc­ia política, de subserviên­cia ou de falta de autonomia. A sangria de quadros e de militantes terá, obviamente, efeitos negativos não só para o partido, mas também para o sistema político na

cional, no qual o CDS sempre teve um papel incontorná­vel desde a construção da democracia. Em suma, esta direção do CDS parece não se dar conta que, para qualquer pessoa exterior ao partido, começando pelos seus simpatizan­tes, o que aconteceu nos últimos dias degradou o CDS enquanto instituiçã­o e pode transformá-lo, perigosame­nte, num tema tóxico.

Pessoalmen­te, estou a fazer uma reflexão sobre o que me fez filiar no CDS e sobre aquilo em que o CDS se está transforma­r com esta liderança. Temo que estejamos a assistir ao ocaso de um Partido que prestou muitos serviços ao País.

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