“Há uma pandemia dos `não vacinados'”
- Que lição há a tirar para o futuro desta pandemia?
- A pandemia de Covid-19 deixou claro que a preparação, a cooperação e a solidariedade são essenciais numa crise sanitária mundial. A fragmentação torna-nos a todos mais vulneráveis. É por esta razão que as nossas propostas relativas à União Europeia da Saúde consistem na partilha de recursos, de conhecimentos especializados e na preparação para enfrentar ameaças em conjunto, como já referi. Se surgirem outras crises, a primeira reação não deve ser cada país olhar apenas para si próprio e tomar medidas a nível nacional. A Covid-19 demonstrou que a segurança sanitária é um esforço coletivo europeu.
- Até que ponto é importante a Europa vir a ser autossuficiente na produção de vacinas?
- Com mais de 880 milhões de doses de vacina disponibilizadas aos cidadãos da União e mais de 1,2 mil milhões de doses entregues a mais de 150 países, a UE afirmou-se como uma potência mundial na produção de vacinas e o epicentro da solidariedade mundial.
Esta crise sanitária demonstrou a importância de garantir a disponibilidade permanente de medicamentos e vacinas vitais e de reforçar as nossas cadeias de abastecimento, tanto através da produção como da constituição de reservas estratégicas ao longo do tempo. A autossuficiência não é o nosso objetivo. O nosso objetivo é garantir o acesso aos medicamentos. E é neste sentido que trabalharemos nos próximos meses.
- Em matéria de vacinação, Portugal é um exemplo para toda a Europa. Por que razão há tantos Estados onde os níveis de vacinação são baixos? - Portugal tornou-se líder mundial na vacinação contra a Covid-19. Uma campanha de vacinação impressionante. Infelizmente, em alguns países da União, as taxas de vacinação continuam a ser infe
riores a 50%, chegando mesmo a limitar-se aos 24%. Estas diferenças constituem um motivo de grande consternação. A hesitação em vacinar tem sido um dos principais desafios. As razões são complexas. Temos de convencer os cidadãos a confiar na ciência e aceitar que as vacinas contra a Covid-19 os protegem de doenças graves e da hospitalização.
- Está a aumentar o número de novos casos e de vítimas mortais. Com o inverno as perspetivas de uma ‘recaída pandémica’ são reais?
- Este é o nosso terceiro inverno com a Covid-19, mas não é o inverno de 2020. Dispomos, agora, de vacinas para proteger todas as pessoas na UE, sendo que mais de 75% dos adultos da União Eucasos aumentarão rapidamente. Já testemunhámos esta situação há algumas semanas em vários países.
Por conseguinte, temos de vacinar, vacinar e vacinar.
- A luta contra a pandemia tem de ser uma luta global. Que apoio está a prestar a Europa aos países menos desenvolvidos, nomeadamente em África, onde muito pouca gente está vacinada?
- Infelizmente, muitos países de rendimento baixo e médio-baixo têm ainda um longo caminho a percorrer para proteger os seus cidadãos. Tal realidade é inaceitável do ponto de vista moral e ético. Nós garantimos doses suficientes para cobrir a nossa população e partilhar com outros e pretendemos doar 500 milhões de doses até meados de 2022. Estamos na liderança do apoio à Covax, com mais de 3 mil milhões de euros. A solidariedade em matéria de vacinas foi a nossa prioridade desde o início. Para nós, nunca foi uma questão de colocar a Europa em primeiro lugar. Temos de cumprir este objetivo, juntamente com os países da União Europeia. Gostaria, aqui, de agradecer a Portugal o seu contributo para a solidariedade mundial.
“O OBJETIVO NÃO É A AUTOSSUFICIÊNCIA, É GARANTIR O ACESSO AOS MEDICAMENTOS”
“ESTE É O NOSSO TERCEIRO INVERNO COM A COVID-19,
MAS NÃO É O DE 2020”