O mundo das sondagens
Adois meses e meio das Legislativas, o país vive pendurado em expetativas por vezes estapafúrdias. As sondagens abundantes dão azo a todo o género de cenários, ao ponto de Portugal tornar-se mais uma criação imaginária do que o resultado do debate político tendo em conta a situação social, o estado da economia, os meios de produção e os recursos humanos. Custa ouvir um especialista de sondagens comparar a intenção de voto de um cidadão com o plano dele próprio ir duas vezes ao ginásio na semana seguinte e acabar por faltar uma vez. Uma grelha de sondagem tem de ser menos volúvel.
Há uns 50 anos, quando a ditadura não permitia perguntas sobre partidos políticos, uma sondagem junto de consumidores fixava ruas, números de portas, contactos por piso e por extrato social. Hoje sabe-se que, mesmo com recursos tecnológicos, o trabalho de campo de um estudo académico dura mais de seis meses. As sondagens eleitorais aviam-se muito mais rápido, devido à enorme procura da previsão de resultados, e o trabalho faz-se com esquema de ‘low-cost’. Há duas semanas, o diário francês ‘Le Monde’ publicou uma reportagem em que o jornalista revela ter respondido ao longo de seis semanas a mais de 200 sondagens graças à criação de vários perfis falsos em que variava com a facilidade, idade, rendimentos e outros dados importantes. Constatou ainda que as eleições regionais de junho constituíram um cenário de uma sobrevalorização dos partidos da extrema-direita.
Perante esta realidade, o cidadão eleitor só tem a ganhar em escolher pela sua cabeça sem elucubrar sobre cenários. A democracia falará mais alto.
AS SONDAGENS ABUNDANTES DÃO AZO A TODO O GÉNERO DE CENÁRIOS