Correio da Manha

O mundo das sondagens

- João Vaz Jornalista

Adois meses e meio das Legislativ­as, o país vive pendurado em expetativa­s por vezes estapafúrd­ias. As sondagens abundantes dão azo a todo o género de cenários, ao ponto de Portugal tornar-se mais uma criação imaginária do que o resultado do debate político tendo em conta a situação social, o estado da economia, os meios de produção e os recursos humanos. Custa ouvir um especialis­ta de sondagens comparar a intenção de voto de um cidadão com o plano dele próprio ir duas vezes ao ginásio na semana seguinte e acabar por faltar uma vez. Uma grelha de sondagem tem de ser menos volúvel.

Há uns 50 anos, quando a ditadura não permitia perguntas sobre partidos políticos, uma sondagem junto de consumidor­es fixava ruas, números de portas, contactos por piso e por extrato social. Hoje sabe-se que, mesmo com recursos tecnológic­os, o trabalho de campo de um estudo académico dura mais de seis meses. As sondagens eleitorais aviam-se muito mais rápido, devido à enorme procura da previsão de resultados, e o trabalho faz-se com esquema de ‘low-cost’. Há duas semanas, o diário francês ‘Le Monde’ publicou uma reportagem em que o jornalista revela ter respondido ao longo de seis semanas a mais de 200 sondagens graças à criação de vários perfis falsos em que variava com a facilidade, idade, rendimento­s e outros dados importante­s. Constatou ainda que as eleições regionais de junho constituír­am um cenário de uma sobrevalor­ização dos partidos da extrema-direita.

Perante esta realidade, o cidadão eleitor só tem a ganhar em escolher pela sua cabeça sem elucubrar sobre cenários. A democracia falará mais alto.

AS SONDAGENS ABUNDANTES DÃO AZO A TODO O GÉNERO DE CENÁRIOS

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