Um SNS que não se preparou
Omassacre diário de notícias sobre uma nova vaga de Covid poderá fazer com que se instale o medo e o desânimo. Se não existir bom senso, a economia sofrerá mais uma destruição, o desemprego subirá e as desigualdades aumentarão.
Contrariamente às previsões oficiais de uma recuperação rápida da economia, em V, sempre afirmei que seria W, devido às caraterísticas da pandemia, com períodos de recuperação seguidos de baixa. Não devia ser uma surpresa para ninguém o que está a suceder. O que é uma surpresa é que não se tenha aproveitado o período de acalmia para reforçar o SNS e assim defender a saúde e a economia.
Os dados da DGO mostram que isso não aconteceu. As transferências do OE para o SNS, em 2021, serão de 11177 milhões de euros, quando em 2020 foram 11008 milhões de euros (+1,5%). O investimento reduzido previsto no SNS em 2021 (273,5 milhões de euros ) até setembro de 2021 só foi executado 49%.
E isto quando as condições de trabalho no SNS são inaceitáveis devido à degradação e falta de instalações e equipamentos, com diretores clínicos a demitirem-se e doentes nos corredores dos hospitais. Em setembro de 2021, o SNS tinha já um défice 275 milhões de euros, e a dívida aos fornecedores aumentou, de dezembro de 2020 a setembro de 2021, de 1516 milhões de euros para 1915 milhões de euros.
Os problemas do SNS não são apenas falta de meios financeiros. A promiscuidade dos profissionais [que trabalham no público e no privado], a falta de uma carreira e de remunerações dignas, de organização e de responsabilização das chefias continuam por resolver.
Se vier uma nova vaga, vai encontrar um SNS menos preparado, com serviços depauperados e profissionais cansados, e sem condições de trabalho. Os doentes não Covid serão de novo abandonados e haverá mortes que podiam ser evitadas.