A dolorosa
Enquanto o país se entretinha a discutir avisos presidenciais e cadeiras do parlamento, a inflação chegou a níveis que já não se viam há 30 anos. Os números económicos parecem às vezes abstracções pespegadas em ecrãs de televisão ou páginas de jornal. Mas estes são daqueles que toda a gente sente. Já quase todos verificámos como o mesmo dinheiro que antes dava para encher o depósito do carro agora só dá para meio ou dava para encher o frigorífico e agora não. E por enquanto só vai piorar. Ainda não se percebeu como e quando terminará a Guerra da Ucrânia, mas enquanto durar haverá perturbação na oferta de petróleo, gás e cereais (estes produzidos tanto na Rússia como na Ucrânia) e os preços aumentarão. Para além de que eles já estavam a subir antes da guerra, por duas razões: pelas pressões logísticas do regresso da actividade económica depois da pandemia e pelas quantidades prodigiosas de dinheiro injectadas pelas autoridades monetárias desde 2008, em especial desde 2020.
Enquanto isto acontece, o Governo assobia para o lado, como se não estivesse a acontecer. E enquanto se discutirem as tais cadeiras do parlamento, agradece. Mas cedo começarão as pressões para subir salários e a despesa pública. Para além de que as autoridades monetárias já começaram a reduzir a oferta de moeda e a subir os juros. Ora, Portugal ainda tem uma dívida externa de 80% do PIB e uma dívida pública de 130%. Com os juros a subir, pagar a dolorosa vai doer ainda mais. Seria bom que Governo, oposição e sociedade se deixassem de trivialidades e começassem a orientar a sua atenção para aqui.
PORTUGAL AINDA
TEM UMA DÍVIDA EXTERNA DE 80% DO PIB E UMA DÍVIDA
PÚBLICA DE 130%