Correio da Manha

A dolorosa

- Luciano Amaral Professor Universitá­rio

Enquanto o país se entretinha a discutir avisos presidenci­ais e cadeiras do parlamento, a inflação chegou a níveis que já não se viam há 30 anos. Os números económicos parecem às vezes abstracçõe­s pespegadas em ecrãs de televisão ou páginas de jornal. Mas estes são daqueles que toda a gente sente. Já quase todos verificámo­s como o mesmo dinheiro que antes dava para encher o depósito do carro agora só dá para meio ou dava para encher o frigorífic­o e agora não. E por enquanto só vai piorar. Ainda não se percebeu como e quando terminará a Guerra da Ucrânia, mas enquanto durar haverá perturbaçã­o na oferta de petróleo, gás e cereais (estes produzidos tanto na Rússia como na Ucrânia) e os preços aumentarão. Para além de que eles já estavam a subir antes da guerra, por duas razões: pelas pressões logísticas do regresso da actividade económica depois da pandemia e pelas quantidade­s prodigiosa­s de dinheiro injectadas pelas autoridade­s monetárias desde 2008, em especial desde 2020.

Enquanto isto acontece, o Governo assobia para o lado, como se não estivesse a acontecer. E enquanto se discutirem as tais cadeiras do parlamento, agradece. Mas cedo começarão as pressões para subir salários e a despesa pública. Para além de que as autoridade­s monetárias já começaram a reduzir a oferta de moeda e a subir os juros. Ora, Portugal ainda tem uma dívida externa de 80% do PIB e uma dívida pública de 130%. Com os juros a subir, pagar a dolorosa vai doer ainda mais. Seria bom que Governo, oposição e sociedade se deixassem de trivialida­des e começassem a orientar a sua atenção para aqui.

PORTUGAL AINDA

TEM UMA DÍVIDA EXTERNA DE 80% DO PIB E UMA DÍVIDA

PÚBLICA DE 130%

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