Correio da Manha

“Fiquei com a ro que tinha no cor

- SECUNDINO CUNHA TEXTO PEDRO ESCOTO IMAGEM ENVIADOS ESPECIAIS KIEV

Sergei Tomchenko

Opesadelo que Sergei Tomchenko nunca pensou viver é indescrití­vel. Perante a chegada das tropas russas à aldeia onde vive, a meio do caminho entre Kiev e Chernobyl, escondeu-se na cave de um vizinho. De lá, por uma fresta, viu os soldados, com um lança-chamas, chegarem fogo à sua casa. “Não consigo entender porque me destruíram a casa. Eu vivo sozinho, não tinha lá nada escondido. Os russos destruíram tudo o que eu tinha”, disse ao CM este ucraniano de 58 anos.

Volchkov é uma aldeia com cerca de 300 pessoas. A 28 de março quase desaparece­u do mapa. Quase, porque ainda restam doze das 72 casas. A destruição aconteceu quando o Exército russo regressava à Bielorrúss­ia, depois de pesadas derrotas sofridas na região de Kiev. Nessa retirada causaram maior destruição do que nos dias da invasão.

“Dói-me o coração. Incendiara­m as casas com lança-chamas. Foram os soldados russos, quem mais?”, disse Petro Prihodko, um idoso da localidade, que confessa nunca ter vivido “tanto horror” na vida. “Soldados russos vieram à nossa casa à procura de ‘bandidos’. Temos um genro, o Andriy, que serviu no Exército ucraniano, e eles estavam à procura dele. Vieram duas vezes num tanque e perguntara­m por ele, perguntara­m à minha filha onde estava. Reviraram tudo, incluindo a cave. Acontece que não tinham nada para nos roubar e ainda tínhamos uma mulher

RUSSOS OCUPARAM AS CASAS DA ALDEIA DURANTE VÁRIOS DIAS

doente que não conseguia andar”, contou este morador de Volchkov, de 85 anos.

Estes homens veem agora os dias passar, numa longa espera, a ver se alguém lhes pergunta o que perderam ou se lhes mostra algum sinal de esperança de que

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nas ruínas da sua casa na aldeia de Volchkov

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