A banalização do horror e o fim da comoção
Um destes dias faça uma exercício: fale com os seus amigos sobre as notícias e, sobretudo as imagens de guerra. Aquelas que todos os dias nos entram em casa, através dos diferentes canais de televisão. Pergunte o que os seus amigos sentem quando assistem a todo aquele horror, às descrições, aos bombardeamentos, às caminhadas rumo à liberdade, ao ficar sem nada de um dia para o outro. Pergunte mais: se continuam a arrepiar-se como no primeiro dia e nos que se seguiram. E não se surpreenda se ouvir respostas como: “já não aguento mais ver guerra”,“já estou cansado disto”. A “guerra”, ou melhor, as suas crónicas e imagens continuam a “vender”. O horror vende, na verdade, porque o ser humano é sensível a essas imagens, não as evita, despertam-lhe uma curiosidade animal A
A QUESTÃO É QUANDO A GUERRA SE BANALIZA E SE PERDE A CAPACIDADE DE SENTIR EMOÇÃO
questão é quando a guerra se banaliza. É quando se perde a capacidade de sentir emoção, comoção, medo, temor, raiva - que seja. Quando a guerra passa a fazer parte do dia a dia sem que isso se questione, sem causar reação. Um dos problemas de um conflito prolongado é o da indiferença da opinião pública, alheada de sofrimento, de devastação, de caos criado intencionalmente. Daí a dificuldade dos programadores de canais de televisão, mundo fora, terem em escolher que imagens podem e devem ser difundidas e quais as que podem criar o sentimento de repulsa, seguido de indiferença a tudo que pode vir depois. É isto que precisamos combater. O horror existe, só não pode ser escancarado mas também não deve ser escondido.