Correio da Manha

A banalizaçã­o do horror e o fim da comoção

- POR LUÍSA JEREMIAS COORDENADO­RA `VIDAS' E DIRETORA `FLASH!' E `TV GUIA'

Um destes dias faça uma exercício: fale com os seus amigos sobre as notícias e, sobretudo as imagens de guerra. Aquelas que todos os dias nos entram em casa, através dos diferentes canais de televisão. Pergunte o que os seus amigos sentem quando assistem a todo aquele horror, às descrições, aos bombardeam­entos, às caminhadas rumo à liberdade, ao ficar sem nada de um dia para o outro. Pergunte mais: se continuam a arrepiar-se como no primeiro dia e nos que se seguiram. E não se surpreenda se ouvir respostas como: “já não aguento mais ver guerra”,“já estou cansado disto”. A “guerra”, ou melhor, as suas crónicas e imagens continuam a “vender”. O horror vende, na verdade, porque o ser humano é sensível a essas imagens, não as evita, despertam-lhe uma curiosidad­e animal A

A QUESTÃO É QUANDO A GUERRA SE BANALIZA E SE PERDE A CAPACIDADE DE SENTIR EMOÇÃO

questão é quando a guerra se banaliza. É quando se perde a capacidade de sentir emoção, comoção, medo, temor, raiva - que seja. Quando a guerra passa a fazer parte do dia a dia sem que isso se questione, sem causar reação. Um dos problemas de um conflito prolongado é o da indiferenç­a da opinião pública, alheada de sofrimento, de devastação, de caos criado intenciona­lmente. Daí a dificuldad­e dos programado­res de canais de televisão, mundo fora, terem em escolher que imagens podem e devem ser difundidas e quais as que podem criar o sentimento de repulsa, seguido de indiferenç­a a tudo que pode vir depois. É isto que precisamos combater. O horror existe, só não pode ser escancarad­o mas também não deve ser escondido.

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