Difícil não é impossível
Avitória de Luís Montenegro nas directas do PSD marca o início de um novo ciclo não só na vida interna do partido mas também no reassumir da liderança da oposição. Ambas as mudanças tardavam e, mais do que desejáveis, são necessárias e imprescindíveis, a bem do regime. Por um lado, o lento mas inexorável deslassar do PSD dos últimos anos só podia mesmo ser invertido por uma vontade forte de reunificar, incluir e somar – um propósito declarado de Montenegro, que a expressiva votação obtida no passado sábado vem reforçar. Por outro lado, o maior partido da oposição tem responsabilidades de que não se pode demitir, seja no escrutínio assertivo da governação seja na construção de uma alternativa clara para os portugueses. A conquista da maioria absoluta pelos socialistas nas legislativas de Janeiro prova que o PSD falhou nesses objectivos. Agora há que recuperar muito do
AGORA HÁ QUE RECUPERAR MUITO DO QUE SE PERDEU, A COMEÇAR PELO TEMPO
que se perdeu, a começar pelo tempo. Já muito se escreveu sobre quão difícil e árdua vai ser a missão de Montenegro, e ninguém – a começar pelo próprio, certamente – terá dúvidas disso. Mas difícil não quer dizer, de modo algum, impossível. Os mais de quatro anos até às próximas legislativas (se assumirmos esse horizonte governativo como certo, o que é incerto) podem acabar por ser mais duros para António Costa, no Governo, do que para Luís Montenegro, na oposição. É que quatro anos de maioria socialista absoluta é uma imensidão de tempo para que a incapacidade de Costa continue a passar despercebida aos portugueses. Tanto mais que ele agora não tem desculpas nem bodes expiatórios a quem endossar os seus fracassos. Cavaco Silva deixou isso bem claro no seu notável artigo de ontem.n