LIGAR AS PESSOAS À CIDADE
Ricardo
é um dos utentes e voluntários
do projeto
“A integração nas atividades em torno da bicicleta é também muito importante para os jovens em autonomização, pois eles precisam de uma rede e de socialização, porque são jovens que estão desenraizados”, lembra a diretora do PRODAC. Dois anos depois do arranque, Cristina garante que tudo funcionou “muito bem”. A primeira bicicleta foi entregue em 2020 e, desde então, já ‘voaram’ outras dez. O projeto está agora a ser alargado à comunidade de Marvila, também com igual sucesso. A SCML fez recentemente uma campanha em que angariou 35 velocípedes.n
Luís Reis é atualmente técnico de intervenção comunitária do Centro de Promoção Social da PRODAC – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em Marvila, onde trabalha há 24 anos. Tantos anos na freguesia fazem com que conheça “muito bem” os jovens da comunidade. “Vi muitos crescerem”, garante. Mas em 24 anos também muita coisa mudou na zona oriental de Lisboa. “Diria até que mudou tudo, quando aqui cheguei ainda existia o antigo Bairro Chinês, um bairro
BICICLETAS LEVARAM A COMUNIDADE A PEDIR UM JARDIM COM CICLOVIAS
enorme de barracas. Entretanto, vieram os processos de realojamento de 1998 e 2000 e, só por causa disso, a comunidade mudou muito. Mudou a habitação, mas também veio nova população, oriunda de outras zonas da cidade de Lisboa, o que deu a este território maior diversidade.”
As condições de vida físicas melhoraram, mas “o sentimento de pertença enquanto comunidade ainda se vai construindo”, lembra Luís.
Os técnicos notam que existe um certo preconceito em relação às zonas de habitação social. “Até há bem pouco tempo, por exemplo, Marvila não tinha ci
Luís Reis
clovias. Aliás, o serviço de bicicletas partilhadas (Gira) não chega à freguesia. A comunidade quis rebater essa ideia e no âmbito do orçamento participativo pediu um novo jardim e ciclovias”, conta.
“Não fazemos nada sozinhos. Enquanto técnicos estamos constantemente a olhar para este território para tentar identificar oportunidades e para arranjar soluções para os problemas, mas ouvimos as pessoas e os parceiros. Percebemos que, quando a voz é dada às pessoas, elas têm boas ideias e sabem muito bem aquilo que é preciso”, afirma, por seu turno, Cristina Simões. Uma dessas ideias irá precisamente em breve tornar-se num jardim, com acessos para velocípedes, para reforçar a ligação ao resto da cidade.n