Correio da Manha

Offshores dão buraco no BES de 224 milhões

Cinco sociedades offshore do Grupo Escom, controlado pelo Grupo Espírito Santo, têm uma dívida de 224 milhões de euros ao BES Comissão liquidatár­ia do BES não identifico­u qualquer património às empresas que permita pagar a dívida milionária

- ANTÓNIO SÉRGIO AZENHA

OFFSHORES FICARAM SEM REPRESENTA­ÇÃO LEGAL DESDE O ‘PANAMA PAPERS’

COMISSÃO LIQUIDATÁR­IA SÓ RECUPEROU 466 MIL € A UMA DAS OFFSHORES

Cinco sociedades offshore do Grupo Escom têm um buraco no BES falido de 224 milhões de euros. O Grupo Espírito Santo (GES) é o principal dono do Grupo Escom e dessas offshores. Para cobrar a dívida, a comissão liquidatár­ia do BES falido tentou encontrar os bens das devedoras, mas constatou que as offshores não têm qualquer património. A dívida resultou de créditos do BES quando Ricardo Salgado liderou o BES e o GES. As offshores estão sediadas nas ilhas Virgens Britânicas e ficaram sem representa­ção legal quando o escritório de advogados Mossack Fonseca foi apanhado no escândalo ‘Panama Papers’.

A dívida das offshores e a inexistênc­ia de bens para o pagamento da dívida são revelados no plano de liquidação do BES falido, que a comissão liquidatár­ia apresentou no Tribunal do Comércio de Lisboa.

Todas as cinco offshores têm a atividade em África: Escom

Mining Developmen­t, Escom Kimberlite­s, Escom Mining Inc., Escom Real Estate e GTD Goods Trading. A exploração de minério, como diamantes, é o foco principal da atividade.

Das cinco offshores, Escom Mining Developmen­t, Escom Kimberlite­s, Escom Mining Inc. concentram quase 90% da dívida total: 194 milhões de euros (ver infografia). E há mais duas empresas com dívidas ao BES falido: a Luo - Sociedade Mineira do Camatchia e a Multiples ES Services. No total, as sete sociedades do Grupo Escom têm uma dívida ao BES superior a 245,1 milhões de euros.

A este propósito, a comissão liquidatár­ia do BES falido é categórica: “A recuperaçã­o dos valores em dívida é, desde o primeiro momento, praticamen­te nula, razão pela qual todas as operações já se encontrava­m totalmente provisiona­das à data da aplicação da medida de resolução [em 3 de agosto de 2014].” Desde a queda do BES, a comissão liquidatár­ia fez diligência­s para tentar cobrar a dívida, mas apenas conseguiu recuperar 500 mil dólares (466 mil euros) da Escom Kimberlite­s. Quanto à existência de bens, “não foi identifica­do qualquer património aos devedores”, afirma a comissão.

Na acusação do caso GES, o Ministério Público (MP) foi categórico: “A concessão de crédito a entidades do Grupo Escom serviu outros interesses que não os do BES e dos seus clientes.” Para o MP, esse crédito “serviu o interesse de Ricardo Salgado em manter em funcioname­nto, com recursos patrimonia­is do BES”, o Grupo Escom e evitar que este fosse obrigado a reconhecer a incapacida­de patrimonia­l de pagar as dívidas.n

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