Offshores dão buraco no BES de 224 milhões
Cinco sociedades offshore do Grupo Escom, controlado pelo Grupo Espírito Santo, têm uma dívida de 224 milhões de euros ao BES Comissão liquidatária do BES não identificou qualquer património às empresas que permita pagar a dívida milionária
OFFSHORES FICARAM SEM REPRESENTAÇÃO LEGAL DESDE O ‘PANAMA PAPERS’
COMISSÃO LIQUIDATÁRIA SÓ RECUPEROU 466 MIL € A UMA DAS OFFSHORES
Cinco sociedades offshore do Grupo Escom têm um buraco no BES falido de 224 milhões de euros. O Grupo Espírito Santo (GES) é o principal dono do Grupo Escom e dessas offshores. Para cobrar a dívida, a comissão liquidatária do BES falido tentou encontrar os bens das devedoras, mas constatou que as offshores não têm qualquer património. A dívida resultou de créditos do BES quando Ricardo Salgado liderou o BES e o GES. As offshores estão sediadas nas ilhas Virgens Britânicas e ficaram sem representação legal quando o escritório de advogados Mossack Fonseca foi apanhado no escândalo ‘Panama Papers’.
A dívida das offshores e a inexistência de bens para o pagamento da dívida são revelados no plano de liquidação do BES falido, que a comissão liquidatária apresentou no Tribunal do Comércio de Lisboa.
Todas as cinco offshores têm a atividade em África: Escom
Mining Development, Escom Kimberlites, Escom Mining Inc., Escom Real Estate e GTD Goods Trading. A exploração de minério, como diamantes, é o foco principal da atividade.
Das cinco offshores, Escom Mining Development, Escom Kimberlites, Escom Mining Inc. concentram quase 90% da dívida total: 194 milhões de euros (ver infografia). E há mais duas empresas com dívidas ao BES falido: a Luo - Sociedade Mineira do Camatchia e a Multiples ES Services. No total, as sete sociedades do Grupo Escom têm uma dívida ao BES superior a 245,1 milhões de euros.
A este propósito, a comissão liquidatária do BES falido é categórica: “A recuperação dos valores em dívida é, desde o primeiro momento, praticamente nula, razão pela qual todas as operações já se encontravam totalmente provisionadas à data da aplicação da medida de resolução [em 3 de agosto de 2014].” Desde a queda do BES, a comissão liquidatária fez diligências para tentar cobrar a dívida, mas apenas conseguiu recuperar 500 mil dólares (466 mil euros) da Escom Kimberlites. Quanto à existência de bens, “não foi identificado qualquer património aos devedores”, afirma a comissão.
Na acusação do caso GES, o Ministério Público (MP) foi categórico: “A concessão de crédito a entidades do Grupo Escom serviu outros interesses que não os do BES e dos seus clientes.” Para o MP, esse crédito “serviu o interesse de Ricardo Salgado em manter em funcionamento, com recursos patrimoniais do BES”, o Grupo Escom e evitar que este fosse obrigado a reconhecer a incapacidade patrimonial de pagar as dívidas.n