Medieval de Ourém: um vinho com mais de 800 anos
VITIVINICULTURA Produção é feita em adegas artesanais do concelho. Vinho biológico tem a classificação DOC
Único no mundo, o Medieval de Ourém é um vinho que continua a ser produzido exclusivamente no concelho de Ourém, segundo os métodos praticados pelos monges de Cister, há mais de 800 anos. Os produtores do concelho de Ourém, nas suas pequenas adegas artesanais, ainda produzem o vinho segundo métodos ancestrais e, embora tenham passado mais de 800 anos, a tradição mantém-se. Isto levou a que este vinho tenha mantido a sua produção biológica e que obtivesse a classificação DOC. A designação de Vinho Medieval de Ourém foi criada com o intuito de preservar o método original, ensinado pelos monges de Cister às pessoas de Ourém no séc. XII, e está regulamentado pela portaria nº 167/2005 de 11 de fevereiro, publicado em Diário da República. Os vinhos protegidos por essa portaria devem provir de vinhas certificadas, a vindima é obrigatoriamente feita à mão, as adegas devem estar inscritas e aprovadas para o efeito e ficam sujeitas ao controlo da entidade certificadora.
VINDIMA FEITA À MÃO
Nas adegas de Ourém, simples, frescas, escuras, pouco húmidas e que muitas vezes ocupam o rés do chão da habitação do viticultor, são utilizadas, exclusivamente, uvas das castas Fernão Pires para mosto branco e Trincadeira para mosto tinto, sendo a vindima feita, obrigatoriamente, à mão e de modo que as uvas brancas e tintas sejam transportadas em recipientes diferentes até à adega.
As uvas brancas são prensadas em lagares e os mostos obtidos são envasilhados logo após o esmagamento, em vasilhas de madeira de modo a não exceder os 80% da sua capacidade total, onde inicia a sua fermentação (vinificação em bica aberta).
Posteriormente, as uvas tintas são desengaçadas com as cirandas e fazem, isoladamente, a fermentação com curtimenta em dornas de madeira, menos frequentemente em lagares, durante quatro a dez dias, sendo efetuado o recalque com um rodo de madeira, no mínimo duas vezes por dia, de modo a obter mosto tinto com os parâmetros de qualidade adequados.
Praticamente no final de ambas as fermentações, o mosto tinto (20%) não prensado e com as películas é envasilhado diretamente na vasilha que já contém o mosto branco (80% da vasilha), de modo a completar o seu enchimento e a terminarem as fermentações em conjunto. Ainda que sendo feito maioritariamente de uvas brancas muito maduras, este vinho é “tinto”, “guloso” e “forte”. Tem aromas de vinho branco, que variam com o estado de maturação das uvas, bem “casados” com aromas de tinto, normalmente amora, framboesa e morango. Este método permite obter vinhos de uma extrema complexidade, macios no beber, untuosos e que preenchem a boca.
ACOMPANHAR COM BACALHAU ASSADO COM CHÍCHAROS E MIGAS Este vinho acompanha não só a rica gastronomia da região, mas também muitos pratos típicos portugueses. É excelente para acompanhar refeições ricas em azeite como o bacalhau assado com chícharos e migas, tradicional da nossa região. A chegada do vinho medieval aos nossos dias só pode ser explicada pelas suas excecionais qualidades e pela perfeita adaptação do método às condições edafoclimáticas de Ourém. Desta forma, este vinho histórico tornou-se património do concelho, e a sua degustação deve ser entendida como um ato cultural, em que se destaca aquilo que é diferente, mas que é genuíno e digno.n