Uma peça absurda que faz rir de temas sérios
EM CENA ‘Transatlântico’ é uma encenação de Ricardo Neves-Neves para a Companhia Maior TEMÁTICAS Texto gira em torno de temas como sexo, questões de género e violência familiar
Mas porque é que esta m*** não afunda de vez?”, questiona uma passageira do ‘Titanic’, no novo espetáculo de Ricardo Neves-Neves, em cena no Teatro Municipal São Luiz até domingo. Para a primeira colaboração com a Companhia Maior, o encenador escolheu um texto que tem 50 anos mas nem uma única ruga. Trata-se de ‘Transatlântico’, do norte-americano Christopher Durang, uma peça de clara inspiração absurda.
“Este texto tem ligações ao universo de Ionesco, Arrabal e de Beckett, que são evidentes, ao mesmo tempo que evoca, com ironia, os realistas, sobretudo Tchekhov”, sublinha Ricardo Neves-Neves, que dirigiu 17 atores da Companhia Maior, a oscilarem entre os 60 e os 90 anos. “Sinceramente, não senti qualquer barreira geracional”, garante. “Estamos a falar de pessoas disponíveis, habituadas
Espetáculo
a trabalhar com criadores diferentes e abertas a propostas arrojadas. Embora em formato de comédia, as principais temáticas deste texto são a sexualidade, as questões de género e a violência familiar”, ressalva.
Em palco, além dos mais velhos, entre os quais o público reconhecerá, pelo menos, Michel (mestre do sapateado e do acordeão) e a ex-apresentadora de televisão Manuela de Sousa Rama, estão ainda 10 jovens atores/músicos do Teatro do Elétrico, que protagonizam os interlúdios musicais e coreográficos. Aviso à navegação: o texto dito em palco contém palavrões. Nada que choque, mas de efeito cómico garantido.n
Oano de 1842, há 160 anos, foi o da morte de Stendhal, o da anexação de Hong Kong pelo Reino Unido, o do nascimento de Mallarmé – e de Ambrose Bierce, a 24 de junho, no distante Ohio. Bierce é o autor do ‘Dicionário do Diabo’, obra-prima do cinismo contemporâneo, publicado em 1906, sete anos antes de, isolado, solitário, divorciado e deprimido, ter desaparecido para sempre no México, onde acompanhava as tropas de Pancho Villa na guerra civil. Calcula-se, portanto, que tenha morrido nesse ano de 1913. Para trás deixava uma obra de jornalista combativo, corajoso e indecente – além de muita ficção, poesia, sátira, correspondência. Um autor, portanto. Mas é o ‘Dicionário do Diabo’ (há duas edições entre nós, a da
ATORES DA COMPANHIA MAIOR OSCILAM ENTRE OS 60 E OS 90 ANOS