Um retrato muito para lá do glamour
Podia ser apenas um documentário artístico, pessoal ou de bastidores, mas ‘Halftime’ de Jennifer Lopez, que acaba de chegar à Netflix (gira muito em torno da atuação da cantora no intervalo do Superbowl, em 2020), vai, na verdade, muito para lá disso. Nas entrelinhas, ele é um intenso documentário político e politizado, que transpira críticas e recados às ideias e culturas enraizadas, ao sistema, ao machismo, ao sexismo e ao racismo. O filme mostra intencionalmente a firmeza de uma mulher que com todas as dificuldades por ser uma “latino-americana” ainda hoje continua a confrontar-se com preconceitos, intolerâncias e discriminação. Mesmo o desconforto gerado na cantora quando é informada que tem de dividir o palco com Shakira, é aproveitado pelo seu empresário Belly
A SOMAR A TUDO ESTÁ A RECONSIDERAÇÃO EM RELAÇÃO À SUA CARREIRA NO CINEMA
Medina para lançar uma farpa à NFL (organização), afinal de contas símbolo maior do machismo norte-americano. “É um insulto dizer que é preciso duas latinas para fazer o trabalho que um único artista costuma fazer”. A somar a isso está a desconsideração em relação à carreira cinematográfica de J-Lo, vista como “uma piada” e as considerações à sua pessoa e em especial ao seu rabo. Há um título de jornal que diz “se Jennifer Lopez fosse mais bonita, ela poderia ser leiloada como um vaso na Sotheby’s”. Mas há um grande momento de vitória no documentário, quando J-Lo ganha o braço de ferro com os homens da NFL que lhe exigiam retirar do espetáculo um número no qual várias crianças (incluindo a sua filha) surgiam em gaiolas.