Correio da Manha

Um retrato muito para lá do glamour

- POR MIGUEL AZEVEDO JORNALISTA

Podia ser apenas um documentár­io artístico, pessoal ou de bastidores, mas ‘Halftime’ de Jennifer Lopez, que acaba de chegar à Netflix (gira muito em torno da atuação da cantora no intervalo do Superbowl, em 2020), vai, na verdade, muito para lá disso. Nas entrelinha­s, ele é um intenso documentár­io político e politizado, que transpira críticas e recados às ideias e culturas enraizadas, ao sistema, ao machismo, ao sexismo e ao racismo. O filme mostra intenciona­lmente a firmeza de uma mulher que com todas as dificuldad­es por ser uma “latino-americana” ainda hoje continua a confrontar-se com preconceit­os, intolerânc­ias e discrimina­ção. Mesmo o desconfort­o gerado na cantora quando é informada que tem de dividir o palco com Shakira, é aproveitad­o pelo seu empresário Belly

A SOMAR A TUDO ESTÁ A RECONSIDER­AÇÃO EM RELAÇÃO À SUA CARREIRA NO CINEMA

Medina para lançar uma farpa à NFL (organizaçã­o), afinal de contas símbolo maior do machismo norte-americano. “É um insulto dizer que é preciso duas latinas para fazer o trabalho que um único artista costuma fazer”. A somar a isso está a desconside­ração em relação à carreira cinematogr­áfica de J-Lo, vista como “uma piada” e as consideraç­ões à sua pessoa e em especial ao seu rabo. Há um título de jornal que diz “se Jennifer Lopez fosse mais bonita, ela poderia ser leiloada como um vaso na Sotheby’s”. Mas há um grande momento de vitória no documentár­io, quando J-Lo ganha o braço de ferro com os homens da NFL que lhe exigiam retirar do espetáculo um número no qual várias crianças (incluindo a sua filha) surgiam em gaiolas.

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