UMA ARTISTA QUE SE PÕE NUA PERANTE O LEITOR
A FADISTA PORTUGUESA ESCREVEU UMA AUTOBIOGRAFIA EM QUE FALA DE TUDO, SEM PUDOR MAS COM ELEGÂNCIA
Uma obra que se lê de um só fôlego, escrita com uma sinceridade desconcertante e rara capacidade de auto-exposição. ‘Animal Sentimental’, de Mísia, era um livro anunciado na vida da artista, que “sempre soube que o ia escrever, um dia”. Ainda assim, a fadista portuguesa assume que foi escrito “ao fio da consciência, sem plano”. “Acho que está lá o essencial”, garantiu à Boa Onda. Amores, desamores, ilusões e desilusões profissionais, momentos de alegria e exaltação, viagens, prémios e homenagens.
Os acontecimentos estão lá, os nomes nem por isso – Mísia optou por não nomear diretamente aqueles que a magoaram. Nem pessoal nem profissionalmente.“Não queria que fosse um livro de escândalo, daqueles que alimentam o voyeurismo”, justifica.
Acompanhado por um disco com o mesmo título,‘Animal Sentimental’“não demorou muito tempo a escrever”, mas teve capítulos “mais difíceis” do que outros, admite a autora. “O capítulo dos amores, que é o mais curto, foi aquele que mais tempo demorou”, recorda.“E no entanto, nem sei porquê. As minhas histórias são simples. Têm um princípio e um fim. E é tudo.”
DOENÇA E SUPERAÇÃO
O leitor vai ficar surpreendido quando Mísia falar, desassombradamente, sobre as suas tentativas de suicídio, e mais surpreendido ficará ao saber que a artista portuguesa enfrentou – e continua a enfrentar – a batalha mais dura da vida: a luta contra o cancro. Algo que a própria sentiu que tinha “obrigação” de assumir.
“Essa parte custou-me escrever”, diz-nos.“Porque é algo que ainda estou a viver. Não tinha a distância que tive em relação a outros assuntos”, acrescentou, explicando que optou por “não localizar o problema”, falando dos três tumores com a naturalidade possível.
“Uma pessoa doente não é só uma pessoa doente. É muitas outras coisas. É pai, mãe, amigo, profissional. Eu continuo a cantar. Continuo a viver. E é por isso que achei que valia a pena falar disto. Acho que é preciso acabar com o estigma em torno da doença oncológica e acredito que posso ajudar outras pessoas a terem mais força para a enfrentar.”
“CUSTOU-ME ESCREVER SOBRE OS TUMORES”