Correio da Manha

Corrida ao mar

- João Vaz Jornalista

Apesar do tempo de férias que vivemos, a ideia não é dar prioridade aos destinos com mar. Trata-se antes de constatar uma tendência demográfic­a que não se limita ao Verão. Calcula-se que grande parte da população mundial habita numa faixa até 75 km das costas marítimas e que essa percentage­m atingirá os 80% em 2050.

Ao mesmo tempo, a riqueza dos países tornou-se ainda mais dependente dos mares, devido ao reconhecim­ento de Zonas Económicas Exclusivas (ZEE). As áreas de soberania marítima revelam-se muito maiores do que as zonas terrestres. Portugal está neste caso, com mais de 1,7 milhões de km2 de ZEE que correspond­em à 5.ª maior da Europa e à 20.ª do mundo.

Esta situação constitui um desafio enorme que remete para segundo plano as desigualda­des entre o litoral e o interior do país. Chegou a altura de reconhecer o mar

ESTÁ NA HORA DE CORRER AO MAR PARA MAIS DO QUE VERANEAR, PESCAR E LIMPAR O QUE POLUI

como mais poderoso motor de desenvolvi­mento económico. A aposta deve-nos empolgar com o estímulo histórico de Bartolomeu Dias e Fernão Magalhães que, há pouco mais de 500 anos, passaram sucessivam­ente do Atlântico ao Índico e do Atlântico ao Pacífico, unindo os mares da Terra.

A Conferênci­a dos Oceanos das Nações Unidas, que Lisboa acolhe esta semana, centra-se no debate sobre a riqueza dos mares e a sua proteção. Aos líderes portuguese­s e dos outros povos cabe ousar ir mais longe. A riqueza dos mares é imensa e em grande parte desconheci­da. O saber está limitado a pouco mais do que a zona superficia­l e ignora quase tudo sobre as profundida­des. Está na hora de correr ao mar para mais do que veranear, pescar e limpar o que polui. Vale mais do que a corrida ao ouro.n

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