Correio da Manha

Burlão profission­al era da PJ, PSP, Fisco e ASAE

CONVERSA Homem faz-se passar pela autoridade que dá mais jeito para enganar as vítimas GOLPES Telefona a exigir dinheiro para resolver problemas que muitas vezes nem sequer existem

- SÉRGIO A. VITORINO

Assumia a autoridade que mais lhe interessav­a para a burla do momento. Foi várias vezes inspetor da PJ, agente da PSP, do Fisco, da ASAE ou de autarquias, e até “delegado de juiz” ou de uma suposta ‘Proteção Animal’. Pedia dinheiro para desistênci­a de queixas e resolução de irregulari­dades que na realidade não existiam. Preso, fez golpes a partir de duas cadeias, com a ajuda de um guarda.

Hélder Cunha, 35 anos, que faz das burlas modo de vida, foi em julho de 2021 condenado em Santarém a cúmulo jurídico de 15 anos de prisão (crimes entre 2012 e 2014) e outro de 9 anos (2015 a 2018). O Supremo mandou agora refazer os cúmulos para incluir uma burla nos crimes posteriore­s a um trânsito em julgado de 2015.

O homem, que atuou várias vezes com a namorada, tem condenaçõe­s desde 2003. Os crimes agora sob análise começaram em 2012. A falta de escrúpulos é destacada pelos tribunais. Um dos golpes mais estranhos foi, em novembro de 2014, contra uma mulher que colocou cartazes na rua a procurar o papagaio desapareci­do e a oferecer recompensa. O burlão ligou-lhe a fazer-se passar por agente da PSP e que estava com um idoso que encontrara a ave, e que este exigia 300 euros de recompensa. A dona, aflita, transferiu o dinheiro - para a conta do burlão, já que não havia qualquer polícia ou idoso. Quando ia a caminho para a entrega do papagaio (outra invenção porque o burlão não tinha a ave), exigiu mais 150 euros, que a vítima também transferiu. Foi à esquadra indicada pelo burlão e deparou-se com ela fechada. Ficou sem ave e sem 450 euros.

As burlas que foram cometidas a partir de duas cadeias onde cumpria preventiva e penas - foram cometidas por telefone. Convencia as pessoas que lhes resolvia problemas a troco de dinheiro. Um guarda de Leiria arranjou-lhe telemóveis e cartões e, por isso, foi condenado a seis anos de cadeia. Hélder Cunha chegou a dizer que, naquela prisão, levava “vida de luxo” e que “parecia um hotel com whisky e vodka com fartura e à noite abriam-me a cela”.n

FEZ GOLPES A PARTIR DA CADEIA, ONDE DIZIA QUE TINHA “VIDA DE LUXO”

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Hélder Cunha a sair da carrinha celular para um dos seus julgamento­s, neste caso no Tribunal de Leiria

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