Correio da Manha

Menores tinham instruções para mentir e dizer que andavam na faculdade

- DÉBORA CARVALHO

EMPRESÁRIO ALEMÃO PAGAVA 400 € A CADA PARTICIPAN­TE NAS ORGIAS

AJustiça deixou-o escapar. Ele não anda assim tão escondido. Se o quiserem encontrar, encontram. Não é assim tão difícil.” A afirmação é feita por ‘Anabela’ (nome fictício) que, em finais de 2018, denunciou o empresário alemão Matthias Schmelz, conhecido como ‘Rei dos Aspiradore­s’, à Polícia Judiciária. Schmelz fugiu do País em novembro de 2019, quando soube que estava a ser investigad­o devido às orgias milionária­s com menores. Quase três anos depois, a Justiça portuguesa admite que continua em “paradeiro incerto” e que será difícil levá-lo a julgamento. “Sinto-me frustrada. Esta pessoa não pode sair impune. Será difícil explicar às nossas filhas que casos como este passam incólumes”, sublinhou ao CM ‘Anabela’, que não esconde a revolta com o desfecho do processo.

O Ministério Público (MP) diz que não consegue localizar Matthias Schmelz, mas o alemão não faz por se esconder. As imagens que partilha no Facebook mostram a vida de luxo que leva agora no Dubai. De Carnaxide (Oeiras), onde a empresa de aspiradore­s Rainbow

Matthias Schmelz

tem partilhado inúmeras fotografia­s e vídeos desde que fugiu do País, em 2019

tem sede, fugiu para Madrid de Uber. Viajou depois para a África do Sul, onde viveu largos meses, até se mudar para o Dubai, onde estará agora refugiado. A fuga de Schmelz foi preparada ao pormenor. O CM consultou o processo e constatou que, nas buscas à casa do alemão, foi apreendida uma folha A4 manuscrita em inglês, que, segundo o MP, era o plano de fuga do empresário (ver infografia).

Matthias Schmelz foi acusado de 22 crimes de recurso à prostituiç­ão de menores agravados e 5 de aliciament­o de menores para fins sexuais. Segundo a acusação, deduzida em maio, o alemão pagava 400 euros à angariador­a e 400 euros à nova menor que aceitasse participar na orgia. Escolhia as raparigas que participav­am nas orgias - algumas com apenas 14 anos - através de fotografia­s que colocavam nas redes sociais. “Quando nos sentámos em frente à PJ, três dias depois de a minha filha me contar o que estava a acontecer com as colegas, tínhamos todos os elementos recolhidos: locais, vítimas, angariador­a, valores transacion­ados. Choca-me como é que tudo foi montado”, conclui ‘Anabela’.n

Dez

As dez vítimas identifica­das pela investigaç­ão prestaram declaraçõe­s para memória futura. “Fui abordada pelo Instagram se queria ganhar 400 euros. Teria de ter relações sexuais com um homem mais velho”, contou à PJ uma vítima. O único encontro sexual que teve com Schmelz aconteceu numa pensão de Lisboa.

“Ele disse-me para ficar de quatro e penetrou-me na vagina por trás. Depois, disse para me virar e voltámos à posição inicial. Falou pouco. Disse: ‘chupa aí baby’ e que eu era boa”, continuou a jovem. Tinha 15 anos e confirmou que tinha instruções da angariador­a, brasileira, para dizer que andava na faculdade.n

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