A Minha Opinião é Maior que a Tua Bandeira amarela
Os coletes amarelos chegaram enfim a Portugal. E, ironicamente, pela mão dos professores. Há alguns anos, houve uma tentativa incipiente de imitar os de França, com a sua revolta, a energia feita combustível, a sua frustração tornada voz coletiva. Os que cá iam `paralisar o país' acabaram por não passar de um bando de gatos pingados. As fotos de 2018 são bem ilustrativas: eles tentando cercar o país e afinal havia mais polícia que `revoltosos'.
Isto lembra-me um senhor barbudo. Nada de receio, é só um apontamento, e até é para dizer que, aqui, ele estava errado. Marx acreditava que era na Alemanha, país industrial, que ia começar a revolução do proletariado. Afinal, foi em 1917 na atrasada Rússia.
Também por cá os coletes de 2018 cometeram um pequeno erro: o cansaço radical não veio de `operários e camponeses', mas dos insuspeitos professores que, por educarem os nossos filhos, supusemos sempre mansos, incapazes de partir a loiça.
No geral, as histórias dos professores são um ror de mansas humilhações. Ele é o vídeo de uma aluna a agredir a `profe' porque esta lhe confiscou o telemóvel. Ele é a sexagenária exausta a quem, na sua cara, adolescentes com o dobro do tamanho chamam `velha múmia' (e depois nem uma leve sanção levam). Ele é a professora com cancro terminal a quem uma junta recusou dispensa
Os professores deram o grito do Ipiranga. Aonde leva esse grito é uma incógnita”
das aulas. Ele é a memória ainda viva da inenarrável ministra Maria de Lurdes Rodrigues. E ele é a cínica bonomia de que, sim, “tendes razão de queixa, mas agora não dá”. E dará quando? “Ai, tivemos a pandemia, agora temos a guerra (há que modernizar a frota), amanhã teremos um gelado ao lume. Mas não se preocupem, o céu será vosso”. O problema é que, nesta época materialista, quase toda a gente prefere ser CEO a ganhar o céu.
E, agora, os professores deram o grito do Ipiranga. Aonde leva esse grito é uma incógnita. Qualquer grupo grande sabe que a sua força está no número, mas também que nesse mesmo número reside a sua fraqueza. Se tem poder durante escassos momentos, com o passar do tempo torna-se fácil de dispersar. Por isso mesmo, os professores têm dificuldade em parar, agora que vão embalados. E é muito capital de frustração, humilhação & mal-estar acumulado.
Há ainda outra coisa. E se a classe dos professores for só a ponta do iceberg? É que, contra um camião desgovernado, de pouco serve o sinal de STOP.