Conta, Peso e Medida Um diálogo bizantino
Osalto dado pelo sistema educativo do País nos últimos 50 anos é notável em todos os níveis de ensino: pré-escolar, básico, secundário e universitário. É notável na melhoria da qualidade do ensino, mensurável através da análise dos estudos comparativos internacionais, na facilidade com que os alunos se inserem noutros sistemas de ensino, como conseguem resultados positivos em universidades e centros de investigação nacionais e internacionais ou ainda como vingam nos mercados de trabalho de qualquer país do mundo. Mas é notável também na quantidade de estudantes que forma: hoje terminar os estudos secundários tornou-se banal e ingressar na faculdade é muito comum entre as gerações mais novas - a exceção tornou-se regra, e ainda bem.
Esta transformação profunda na educação dos portugueses é a obra maior da democracia portuguesa e deve-se ao esforço coletivo dos portugueses que com os seus impostos financiaram as apostas certas do poder político, às famílias que investiram nos seus filhos, aos professores e outros trabalhadores das escolas que se dedicaram às escolas e à atenção que foi sendo dada em cada momento às melhores práticas educativas dos outros países. Alargaram-se os anos de escolaridade e os horários, reforçou-se o ensino do inglês e não se deixou passar em branco a digitalização crescente da sociedade. As escolas públicas fornecem refeições aos alunos, ocupação de tempos livres e até manuais escolares.
Contudo, nos últimos meses, a luta dos professores veio expor uma ferida profunda nas nossas escolas e, se muito prejudica os alunos de hoje, a não ser resolvida, pode prejudicar ainda mais os alunos de amanhã. Os professores sofrem, como a generalidade dos portugueses, de um problema de salários baixos - é o primeiro problema que o Governo tem de enfrentar
Os professores sofrem, como a generalidade dos portugueses, de um problema de salários baixos
com verdade, coragem e um acordo de rendimentos a implementar no curto prazo. Adicionalmente, a má-fé histórica dos governos manteve por décadas dezenas de milhares de professores em condições de trabalho precárias - é imperativo pôr fim a esta precariedade. O resto da discussão sobre horários, quadros de zona pedagógica, municipalização ou centralização é um diálogo bizantino que desaparece se resolvidos os verdadeiros problemas.