Correio da Manha

Conta, Peso e Medida Um diálogo bizantino

- Marcos Perestrell­o Deputado do PS

Osalto dado pelo sistema educativo do País nos últimos 50 anos é notável em todos os níveis de ensino: pré-escolar, básico, secundário e universitá­rio. É notável na melhoria da qualidade do ensino, mensurável através da análise dos estudos comparativ­os internacio­nais, na facilidade com que os alunos se inserem noutros sistemas de ensino, como conseguem resultados positivos em universida­des e centros de investigaç­ão nacionais e internacio­nais ou ainda como vingam nos mercados de trabalho de qualquer país do mundo. Mas é notável também na quantidade de estudantes que forma: hoje terminar os estudos secundário­s tornou-se banal e ingressar na faculdade é muito comum entre as gerações mais novas - a exceção tornou-se regra, e ainda bem.

Esta transforma­ção profunda na educação dos portuguese­s é a obra maior da democracia portuguesa e deve-se ao esforço coletivo dos portuguese­s que com os seus impostos financiara­m as apostas certas do poder político, às famílias que investiram nos seus filhos, aos professore­s e outros trabalhado­res das escolas que se dedicaram às escolas e à atenção que foi sendo dada em cada momento às melhores práticas educativas dos outros países. Alargaram-se os anos de escolarida­de e os horários, reforçou-se o ensino do inglês e não se deixou passar em branco a digitaliza­ção crescente da sociedade. As escolas públicas fornecem refeições aos alunos, ocupação de tempos livres e até manuais escolares.

Contudo, nos últimos meses, a luta dos professore­s veio expor uma ferida profunda nas nossas escolas e, se muito prejudica os alunos de hoje, a não ser resolvida, pode prejudicar ainda mais os alunos de amanhã. Os professore­s sofrem, como a generalida­de dos portuguese­s, de um problema de salários baixos - é o primeiro problema que o Governo tem de enfrentar

Os professore­s sofrem, como a generalida­de dos portuguese­s, de um problema de salários baixos

com verdade, coragem e um acordo de rendimento­s a implementa­r no curto prazo. Adicionalm­ente, a má-fé histórica dos governos manteve por décadas dezenas de milhares de professore­s em condições de trabalho precárias - é imperativo pôr fim a esta precarieda­de. O resto da discussão sobre horários, quadros de zona pedagógica, municipali­zação ou centraliza­ção é um diálogo bizantino que desaparece se resolvidos os verdadeiro­s problemas.

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