Costa segura Galamba e força o confronto com Marcelo
REUNIÃO Depois de hora e meia de reunião em Belém, chefe do Governo invoca razões de “consciência” para não demitir ministro PRESIDENTE Comunicado realça o desacordo quanto à leitura política dos factos e à perceção tida pelos portugueses
Está aberta a crise política. A mais grave dos sete anos de governação de António Costa. Ao não aceitar a demissão de João Galamba, que invocou o barulho do “ruído que se sobrepõe aos factos, à verdade”, o primeiro-ministro elevou para um novo patamar o confronto com o Presidente da República, que há dias andava a pedir a cabeça do ministro das Infraestruturas.
Depois de hora e meia de reunião em Belém, Costa foi às escadarias de São Bento assumir, de forma pouco discreta, que o seu ministro continua no Governo.
“Era mais fácil ter aceitado o pedido de demissão, mas prefiro ficar bem com a minha consciência”, disse o primeiro-ministro no início do seu discurso, acrescentando: “É uma decisão minha e só minha.”
Costa frisou que “o exercício do poder exige disponibilidade para a solidão” e adiantou: “Admito que muita gente não compreenda a minha decisão, mas espero que o futuro me dê razão.”
O chefe do Governo disse ainda que nem ele nem nenhum ministro deu qualquer instrução aos serviços de segurança (SIS), e que este organismo “não agiu à margem
da lei”. Quando questionado sobre como fica a sua relação com Marcelo, e sobre uma possível dissolução do Parlamento, Costa referiu: “Não faço especulações. A estabilidade é um bem maior. O Governo cá estará para acatar as decisões do senhor Presidente da República.”
Marcelo esperou que Costa terminasse para, logo a seguir, libertar um comunicado: “O ministro das Infraestruturas apresentou o seu pedido de demissão (...) O primeiro-ministro
(PM), a quem compete submeter esse pedido, entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável. O Presidente da República, que não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do PM, discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem.”
PRESIDENTE REAGIU IMEDIATAMENTE APÓS A INTERVENÇÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO